Lá como cá

terça-feira, 05 de agosto de 2014

"Um policial foi posto em prisão temporária, desde sábado, acusado de ter levado 52 quilos de cocaína de uma sala de segurança máxima, onde objetos de origem suspeita, apreendidos pela polícia, são guardados. Segunda à tarde, outro policial também foi preso, portando uma sacola onde estava acondicionado o correspondente a 60 mil reais.” Errou quem pensou tratar-se de uma delegacia e de policiais brasileiros. Este fato se deu em Paris, na sede da polícia judicial da cidade. 

Na véspera, a droga apreendida tinha sido colocada numa sala de segurança máxima, onde para se entrar era preciso chave e senha. Quando o primeiro policial foi preso, uma funcionária da delegacia lembrou-se de tê-lo visto entrando naquele local com dois sacos vazios e saindo, alguns minutos após, com os sacos cheios. No entanto, esse policial continua a negar qualquer participação no caso. O segundo, que a princípio poderia ter facilitado a entrada do primeiro, foi preso quando corria com sua esposa e sua filha, na cidade francesa de Perpignan, também na França. Ao ser interrogado sobre a origem do dinheiro, disse tê-lo ganhado no jogo. Como esse segundo policial possui sete imóveis na região, este patrimônio chamou a atenção das autoridades, e uma investigação mais detalhada mostrou que os imóveis tinham sido comprados graças ao patrimônio da esposa. Já pensaram se esse tipo de investigação fosse feita aqui?

 A droga, cujo valor é estimado em dois milhões de euros, ainda não foi recuperada e as autoridades locais não têm a menor ideia do que possa ter acontecido.

Será que estamos exportando esse tipo de tecnologia? Será que finalmente a Europa se curva diante do Brasil? Essa dúvida faz sentido, pois até alguns anos atrás era pouco comum o envolvimento descarado de policiais d’além-mar com o crime organizado, ou pelo menos com um desvio de conduta de tal magnitude. 

O que chama a atenção nessa notícia é a comprovação de como o tráfico de drogas é capaz, dado o volume de dinheiro que movimenta, de corromper não importa quem, mesmo policiais cuja remuneração é muito superior a dos nossos homens da lei. Muitas vezes, quando nossos policias cometem delitos, os chamados desvios de conduta, tenta-se justificar tais ações com o fato de estes arriscarem suas vidas por muito pouco, mesmo em se tratando de chefes de família que, numa ação mal-sucedida, podem deixar uma viúva e um ou vários órfãos. Ainda bem que a banda podre de nossa polícia perde de goleada para aqueles que agem com seriedade. 

O pior é que condutas típicas do terceiro mundo começam a ser copiadas pelos países de primeiro mundo. Há alguns anos, essa mesma França começou a se preocupar com o aumento crescente de faltas ao trabalho, cobertas por um número cada vez maior de atestados médicos. Na Europa, ausentar-se do emprego por mais do que três dias é muito raro. De repente, começaram a aparecer atestados de 15, 30 ou mais dias. Era como se nossos beneficiários crônicos estivessem exportando tecnologia.

 Aliás, ano passado, quando morei por quatro meses na França, me surpreendi com o número de aposentados por incapacidade laborativa. É que lá, ao contrário daqui, não se leva muito em consideração o fato de existir uma incapacidade relativa, quer dizer, um trabalhador pode ser incapaz para uma atividade e não para outra. Eles não têm o Centro de Recuperação Profissional que funciona em muitas agências médico-periciais do INSS. 


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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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