Friburgo, uma cidade sem memória

terça-feira, 22 de julho de 2014

No domingo, fui com minha mulher e meu sobrinho, que mora na Alemanha, almoçar no que eu chamo de restaurante do "oi”. É aquele restaurante em que ao entrar você conhece todo mundo, pois sua maior frequência é de moradores mais antigos da cidade, e o que se faz a todo momento é cumprimentar alguém com o famoso "oi, fulano”. Diga-se de passagem, isso se tornou raro em Friburgo, no momento em que os tradicionais restaurantes de nossa cidade como o Majórica, o Rosa Amarela, o Cancelão (o situado na Av. Alberto Braune), o Bambuzinho, o Park Hotel e muitos outros fecharam as suas portas. Fundado em janeiro de 1981, segundo informação prestada pelos proprietários, o restaurante funcionou até 1987 no antigo hotel Schumaker; a partir de junho daquele ano, mudou-se em definitivo para o local em que permanece até hoje e lá se vão 27 anos.

Não podemos chegar ao ponto de dizer que o La Bamba se confunde com a história da cidade, porque não é tão antigo assim. No entanto, dos restaurantes mais tradicionais é, talvez, o único representante de uma Friburgo que não existe mais e, o que é pior, não volta mais. Apesar de se inscrever no rol das empresas familiares, atualmente está na segunda geração, não perdeu suas características originais, mantendo um padrão muito bom, com destaques para as massas. Curiosamente, apesar de a fundadora ser de origem alemã, nenhum prato da culinária germânica é servido. Aliás, fica aqui uma sugestão para uma futura inclusão na grande variedade de pratos oferecidos aos clientes.

Uma coisa que me incomoda muito, amante da história que sou, é o fato de nossa cidade não ter um museu para preservação do seu passado e fonte de pesquisa das gerações futuras. A dificuldade encontrada por mim, quando da realização da minha monografia para conclusão da faculdade de Comunicação Social, foi enorme, pois um ícone de sua história que foi a fundação da atual Rádio Friburgo AM, se perdeu na falta de documentos e imagens da época. Tive que me basear na pesquisa oral, entrevistando pessoas que viveram aquele momento, e me deram as informações de que precisava. Note-se que ela não é tão antiga assim, pois foi fundada em 1º de junho de 1946.

Se procurarmos na internet informações sobre os restaurantes citados acima, veremos que o Cancelão se refere ao mais recente e já fechado, que ficava ao lado da Aliança Francesa; sobre a Majórica temos a impressão que ainda funciona; sobre o Bambuzinho nenhuma referência. Mesmo sobre o La Bamba, as informações sobre a data de fundação me foram dadas pelos donos e sua existência, no início, como anexo do antigo hotel Schumacher são frutos da minha própria lembrança, pois almocei muito ali, aos domingos.

É curioso que uma cidade que já foi de grande importância no contexto cultural do estado não tenha preservado seu passado e, não fosse a presença de poucos autores que escreveram livros sobre a evolução da cidade, muito pouco saberíamos de nossa história. Aliás, existem lacunas que são difíceis de serem preenchidas, pois se perderam no tempo. Será que alguém se lembra da existência da Empresa Telefônica de Friburgo, fundada por Augusto Spinelli? É curioso que desde 1977, quando me mudei para Friburgo, nenhum candidato a prefeito ou a vereador tenha aventado a criação do museu da cidade no seu programa de campanha.

Talvez para uma maioria, museu seja sinônimo de velharia, mas é, na realidade, um centro de preservação da cultura de um povo. Aliás, povo sem raízes tende a se pulverizar no tempo, pois não tem como se espelhar nos ensinamentos dos seus antepassados, alicerce para a sedimentação do seu futuro.


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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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