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Câncer, uma doença matreira
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Doença matreira. Foi como um velho colega, médico de um pequeno município do interior mineiro, classificava o câncer. Simples, mas muito verdadeira esta forma de definir as doenças malignas que agridem o ser humano de todas as maneiras. Um fato que vivenciei faz pouco tempo, e do qual me lembrei hoje, me recordou aquela frase do velho médico mineiro. Atendi no meu consultório uma jovem que havia tido o seu primeiro filho e que estava amamentando. Estava acompanhada por sua mãe, que era minha paciente há vários anos, e trazia no colo seu bebê de pouco mais de dois meses. Estava voltando para Friburgo, depois de alguns anos morando em São Paulo, para onde seu marido tinha sido transferido a serviço de uma empresa friburguense. Procurou-me, levada por sua mãe, com uma queixa de dor na mama direita e de um caroço doloroso naquela mama, além de ínguas na axila daquele lado. Estava ainda tomando um medicamento que tinha sido prescrito por sua ginecologista de São Paulo, a qual havia diagnosticado uma mastite, inflamação da mama, coisa que acontece com muitas mulheres quando estão amamentando, popularmente chamada de leite empedrado dentro da mama. Examinei a jovem com atenção, e de início tive a mesma impressão da colega paulista, tudo indicava uma infecção da mama, a tal mastite. Verifiquei que a medicação em uso pela jovem era adequada para o caso, mas estranhei a demora da doença em ceder ao tratamento. Pedi um exame de sangue e também uma ultrassonografia daquela mama. Em poucos dias, a jovem trouxe o exame de sangue, que estava alterado. Em relação a ultrassonografia, o colega que a realizou no mesmo dia havia me telefonado, dizendo que o tumor mais parecia um lesão compatível com um câncer da mama e não com uma mastite.
Solicitei então que a paciente realizasse um biópsia do tumor. O procedimento foi feito com uma agulha especial, muito fina, e o material colhido foi encaminhado para uma patologista. Dois dias depois, a colega patologista me telefonou e me informou que a lesão que pensávamos ser uma mastite, ou o tal leite empedrado, era mesmo um câncer de mama. Fiquei com pena daquela jovem mãe, com seu bebê no colo, que dias atrás me havia procurado certa de que aquele caroço na mama era apenas uma inflamação que com algum remédio mais forte iria acabar. Pedi a minha secretária que ligasse para a família e marcasse uma hora para conversarmos no consultório.
No dia e hora marcados, a jovem, com seu neném no colo, e sua mãe junto sentaram-se a minha frente. Com muito jeito, passei a notícia ruim e informei o que teríamos de fazer. São situações que os médicos vivem diariamente, e que precisam enfrentar e resolver. Mais uma vez concordei com o velho médico mineiro. É uma doença muito matreira.
Dr. Norberto Louback Rocha
A Saúde da Mulher
O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.
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