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Possíveis maneiras de identificar o risco de suicídio
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Pessoas se suicidam em momentos de desespero. Desespero significa perda da esperança. Também alguns cometem suicídio devido a comprometimento mental grave, agudo ou crônico, como crise psicótica, surto por drogas, crise moral-espiritual.
Assim, ao lidar com pessoas que tentam suicídio, temos que fazer um diagnóstico do estado mental do momento. É depressão grave? Reação por drogas em pessoas propensas à crises mentais graves? Surto psicótico? Violência espiritual? Ou é algo situacional, impulsivo, daquele momento de desespero e em seguida a pessoa se arrepende? Se a pessoa, numa avaliação pessoal, disser que ainda tem ideias suicidas, ela não deveria ficar sem alguém em nenhum momento, até sair da cabeça o pensamento suicida e precisa acompanhamento profissional médico psiquiátrico imediato.
No atendimento de um paciente deprimido grave, temos que avaliar sempre o estado do pensar suicida. Como? Perguntando olhando nos olhos: "Você tem pensado em morte, em acabar com sua vida, em se matar?”. Daí vamos ter, a grosso modo, dois tipos de respostas: (1)”Sim, penso em morte, mas penso no sentido de Deus me levar para me tirar deste sofrimento!”. E então para outra pergunta ainda dentro do exemplo 1: "Você tem pensado recentemente em se matar?”. Geralmente a pessoa que não tem supostamente risco suicida, neste momento, diz algo como: "Não, mas se Deus me levasse…”. Daí vamos para uma pergunta mais direta que em geral é conclusiva: "Numa hora de muita angústia, muito desespero, você teria coragem de se matar?”. A pessoa com pequeno ou sem risco suicida, diria: "Não, eu não teria coragem”.
Outro tipo de resposta (2)funciona assim: ao você ir gradativamente "apertando” nas perguntas, a pessoa tira o olhar de você, olha para baixo ou para longe ou para nada, fica quieta uns segundos, e diante da sua pergunta final se ela tem pensado em se matar, ela dirá (talvez depois de alguns segundos quieta e quem sabe chorando, ou com uma face muito consternada): "Sim, tenho pensado em me matar”. A próxima pergunta, então, será: "Que forma de suicídio você tem pensado em usar?”. E "Já falou com alguém sobre isto?”. Isto ajuda a pessoa a colocar para fora a ideia, e ao falar com alguém (profissional ou não) sobre isto abre-se uma porta para receber ajuda.
O suicida no fundo não quer morrer. Ele não sabe é como continuar a viver com a desesperança. Daí temos que dar alguma esperança o mais concreto possível. Frases clichês, tipo "Deus te ama!” e "Jesus vai acabar com o sofrimento”, podem não funcionar neste momento. Há momento para isto, mas não na hora da crise de total desesperança.
Daí temos que colher na história da pessoa algo positivo que sirva de "boia” para ela se agarrar e começar a voltar a ter esperança, ou a sair da desesperança. Podemos apelar (1)falando que pessoas da família (cite quem) ficariam com um trauma que nunca mais sairia da mente. (2)Mostrar, no caso de ser mãe ou pai que pensa em suicídio, que os filhos precisam sim dela(e). (3)Falar que a mente da pessoa deprimida está com alterações nos circuitos cerebrais e isto faz com que a avaliação da realidade esteja torcida ou negativamente aumentada para o pior e que, assim, as coisas podem não ser tão drásticas, ou se são (morte de um querido por acidente trágico, por ex.), a mente depois reage diante da perda e se adapta. E isto é verdade do ponto de vista da psiconeurobiologia! (4)Pode ser citada uma reportagem em que o repórter entrevistou várias pessoas que tentaram o suicídio e na hora H algo falhou (a bala não saiu do revólver, a queda não foi fatal, a corda arrebentou, etc.) explicando que o repórter ao perguntar para o suicida o que passou pela cabeça dele(a) na hora em que deu o passo para se matar, todos disseram: "Me arrependi!”. Ou seja, há saída para o sofrimento! Porque eles continuaram vivos e aprenderam a lidar com a perda que os motivara ao suicídio. O que é diferente de encontrar saída para algumas perdas irreparáveis que o suicida possa ter tido (rompimento de casamento sem volta, morte de filho, etc.).
E pode-se concluir dizendo para a pessoa com risco suicida coisas como: (1)Você deve procurar uma pessoa, telefonando, visitando, indo para a casa dela, saindo para a rua, na hora do pensamento suicida. (2)Telefone para mim seja que horas for! (Dê seus números de contato.) (3)Não fique sozinho(a) em casa. (4)Faça oração, abrindo seu coração ao Deus Criador crendo que Ele escuta sua prece feita com suas próprias palavras. Ele mesmo disse: "Aquele que vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora” João 6:37. (5)Lembre-se do que conversamos e que dá esperança real de melhora (você deve repetir o que foi falado de positivo diante do problema). (6)Lembre-se de que estes pensamentos suicidas são frutos de circuitos cerebrais que funcionam em ondas e que, assim, isto vai passar. (7)E diga que precisa falar com algum parente dela(e) para proteger a pessoa. Daí avise ao parente/amigo falando da ideia suicida e que será preciso vigiar a pessoa 24h/dia. (8)Reforce a necessidade de seguir com medicação antidepressiva e (9)psicoterapia de apoio.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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