O Rio de Janeiro parou para reverenciar a França

terça-feira, 01 de julho de 2014

Quarta-feira, 25 de junho, dia de trabalho em qualquer parte do mundo, mas num país chamado Brasil, na cidade maravilhosa, foi feriado por causa de um jogo de futebol. Nem era a final, sequer jogo do Brasil, mas sim um match entre as seleções francesa e equatoriana, na fase de classificação da 20ª Copa do Mundo. Contrariando a máxima erroneamente atribuída a Charles de Gaulle, "Le Brésil n’est pas un pays sérieux” (O Brasil não é um país sério), creio que assistimos a uma constatação de como o Rio reverencia a terra de Asterix a ponto de sacrificar um dia de trabalho para torcer pelos "bleus”, como também é conhecida a seleção da França, e de como leva a sério essa amizade franco-brasileira.

Aliás, somos um país de contrastes e de incongruências que confundem a mente dos mais equilibrados, pois as cabeças pensantes do partido do governo vivem a vociferar contra a elite. Mas esquecem de duas coisas relevantes, a saber: eles, dirigentes, são tudo menos pertencentes às classes desfavorecidas, haja vista os salários e benesses dos quais se locupletam; e a França sempre exerceu no Brasil um papel de elite (um exemplo a ser seguido), seja pela educação e cultura, seja pela moda, seja pela gastronomia, seja pelo idioma, que era considerado a língua universal até o fim da segunda guerra mundial. Aliás, no Brasil Império e mesmo na República Velha, muitas lojas na rua mais famosa do Rio de Janeiro da época, a Rua do Ouvidor, vendiam mercadorias produzidas na França e muito proprietários eram franceses.

No entanto, não devemos esquecer que se por um lado a Copa faz a alegria de muitos comerciantes do ramo da alimentação, principalmente da Zona Sul, por outro traz um tremendo prejuízo para o comércio em geral, com maior repercussão no centro da cidade, com essa gama de feriados e pontos facultativos. Afinal de contas, o comércio depende de suas vendas para pagar os impostos e os seus empregados, e um dia não trabalhado diminui o dinheiro em caixa no fim do mês.  

O mais surpreendente é que o jogo estava marcado para as cinco horas da tarde e o fluxo de pessoas, em direção ao Maracanã, estaria sempre no sentido oposto ao daqueles que terminavam sua jornada de trabalho. Aliás, o comércio costuma baixar suas portas às seis, os bancos às quatro e as repartições públicas entre cinco e seis da tarde, dependendo de suas atividades. Não creio que o transporte público seria tão afetado e é esse que importa, já que o estacionamento em volta do estádio está proibido em dias de jogos, além de os torcedores serem orientados a chegarem mais cedo ao estádio. 

A se pensar dessa maneira, na hipótese de o Brasil vir a ser campeão, teremos uma semana de feriado para as comemorações, já que comemoraríamos o hexacampeonato, numa Copa realizada na nossa casa. De quebra, festejaríamos também o sepultamento definitivo do fantasma da final de 50, vencida pela seleção do Uruguai, nesse mesmo Maracanã. Diz minha mãe que essa derrota foi tão traumática que até eu, com quatro meses de vida, acordei chorando desesperadamente, sem motivo aparente, no exato momento em que Ghiggia fazia o segundo gol uruguaio, o gol do título.

O nível técnico desse mundial é um dos melhores dos últimos tempos. Os gols têm sido uma característica marcante, deixando sepultadas as retrancas de copas passadas, mas o que mais vai marcar a festa maior do futebol mundial é o show de simpatia dos brasileiros, elogiado na mídia internacional e o clima, argentinos à parte, de confraternização entre as torcidas. 


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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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