Observatório -14/06/2014

sexta-feira, 13 de junho de 2014
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Hoje é dia de crônica

 

Amar de paixão

Devoção. Necessidade mais que desejo. Carinho que arde e ilumina. Fidelidade ao que se sente. Entrega. Loucura sóbria que faz rir e chorar. Amar de paixão é pensamento que não passa e saudade que se instala segundos depois de se deixar o outro bem na porta de casa. É liberdade em dizer tudo ou quase tudo. É intensidade insana. Qual intensidade não é? Espera...

E te espero sem saber se vai chegar, na esperança de que o que tem que ser vigora. Vigora, pois agora é essa hora de nós dois. O resto é sonho de que a hora vire dia, o dia mês e o mês, a vida inteira para além da eternidade.

Amar de paixão é venerar sem se envergonhar de ser visto tolo ou se tornar mesmo tolo. Se é tolo com toda honra de quem tem sorriso largo no rosto que não cai, tampouco derrete na tempestade. E, se vem tempestade, nela se entra e se afoga de braços abertos e alma livre. Amar de paixão é, afinal, entrega. Pela entrega se coroa e nela se veste pela glória de ser feliz entre a multidão. Amar de paixão é não se importar com o que dizem as estrelas, mas replicar quando elas dizem que "foram feitos um para o outro”. Sorte divina. Destino natural de todos os seres, até mesmo os mais desatentos. Garantia da existência dessa certeza que torna a vida mais encantadora, mais fascinante, menos mortal.

Dispensam-se desafetos, acumulam-se sonhos, desses bobos, de comer almofada de céu do outro lado da rua. Permite-se o ciúme e dilui-se a incoerência na vontade de se encontrar e se beijar e se abraçar de novo. Corrói o medo e concede coragem. Para enfrentar tudo. Coragem para se emocionar, sem estranhar o que a emoção traz.

Amar de paixão é assim, essa insistência em criar eventos só para ter perto quem ilumina os olhos. Mudar a agenda para não perder a oportunidade de tocar aquelas mãos, sentir aquela alma, respirar aquele jeito. E rir de si mesmo, porque o peito estoura em festa, com confetes multicoloridos e fogos de artifício, quando de surpresa, aquele olhar cruza com o seu e se desconcentra do resto do mundo ao ponto de se anular todo o resto do universo. Desconcentração boa, dessas de perder a fala e se distanciar do chão. É nessas horas, a única hora, que o homem tem a capacidade de voar... Rodopiar em valsa nos versos da poesia que se estende ao infinito e desvia dos buracos negros das galáxias.

Amar de paixão é como se apaixonar por amar. Amar por se apaixonar. Não é equilíbrio, nem euforia. É um pouco dos dois com o todo que os une e nos torna mais estonteantes, mais aguçados no prazer pela vida. E o que é a vida sendo vivida sem motivação ou prazer? 

Aniquila as dificuldades sem querer facilidades que tornam menos importantes as conquistas. As conquistas merecem ser qualificadas. Deixe de usar uma das mãos e vai perceber o quanto a outra é essencial e o quanto é importante ter as duas. Nessa experiência, a gente percebe o quanto faz falta aquilo que nos parece tão trivial. Amar de paixão é um pouco isso, mas é mais. Não ter uma das mãos não se compara a não ter ao seu lado essa tal força que te impulsiona e te motiva. A falta dela te faz bambo, aleijado, perdido, sem saída e sem recursos para se mover, para fazer, para ser... Um forte entre os homens, uma fortaleza entre os mortais. Amar de paixão é logo essencial, por isso, mais necessário do que apenas desejo. É o tal combustível capaz de levar às estrelas que moram no centro da terra ou as que residem para lá de Plutão.

Hoje eu sei, depois de algumas experiências, que paixões se devoram por si só e acabam. Agora eu sei que apesar da intenção de serem eternos, amores também adormecem como a lua quando vai de encontro ao sol. Por isso, clamo à intensidade das paixões e à insônia dos amores para ter o que chamo de perfeição: amor de paixão. Único. Vigilante. Eternamente intenso. Incessante.

Amar de paixão é admitir a ansiedade pelos segundos que não chegam ou pela resposta de um simples boa-noite ou à despretensiosa pergunta "está tudo bem?”. É aquilo que completa, mesmo quando se sabe que o repleto perdura por um determinado tempo para vislumbrar novos trechos de história para repleto ser de novo. Tem ciúme? Tanto quanto exagero tem ciúmes passageiros que valorizam a vontade de estar, mais do que ter. Amar de paixão é ter consciência que as tais borboletas no estômago cessarão voo em determinado momento, mas em outro instante renascerão. Porque, melhor do que se apaixonar por um novo amor, é amar de novo uma mesma paixão.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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