Adeus, planos de saúde

quarta-feira, 04 de junho de 2014

Quarta-feira passada, sem choro nem vela, foi meu último dia como médico pertencente a planos de saúde. Após 37 anos, em que ano após ano sedimentou-se a convicção de que esse tipo de prestação de serviços é muito bom para poucos e ruim para uma grande maioria, chegou o momento de virar a página, de deixar para os que estão começando a árdua missão de provar que plano de saúde é um bom negócio.

Sempre deixei claro o que penso deles, quando os considero um mau negócio para o bom desempenho da profissão médica. Nenhum plano de saúde se dispõe a deixar a consulta médica no plano do acordo médico/paciente e bancar somente os exames e as internações, sejam clínicas ou cirúrgicas. Assim, os médicos conceituados e bons profissionais servem, na realidade, como chamariz para que os futuros clientes se filiem ao plano A ou B. Foi com esse subterfúgio que cresceram e se multiplicaram à custa do nome do profissional que a eles emprestam o seu nome.

Quando descobrem que trabalham muito para ganhar pouco, já que as consultas têm, na maioria dos casos, preços defasados, ou deixam o plano ou têm de se valer de subterfúgios para receberem um salário compatível com o tempo que passaram estudando e se aprimorando. No primeiro caso, provocam um nivelamento dos planos. 

Tanto isso é verdade que em Friburgo existe um que se torna conhecido e em franco desenvolvimento; é aquele em que o profissional cobra do paciente um percentual de sua consulta particular, que pode variar de 30 a 50%; exames laboratoriais e internações também são negociados, tornando esses atos médicos mais em conta para o paciente do que uma internação particular total. Nesse pacote, ainda se oferece descontos em farmácias e outros estabelecimentos comerciais da região. O mais importante é a economia, pois as consultas são marcadas por necessidade do paciente e não porque são de "graça” nos planos comuns.

Nessa maneira de trabalhar a satisfação é dupla, pois o médico tem um preço de consulta acima daquele dos planos e não muito defasada em relação a sua consulta particular; do paciente, porque paga menos e tem a certeza de estar sendo atendido por um profissional que trabalha de boa vontade, pois recebe na hora e de acordo com o que ele mesmo estipulou.  Com essa modalidade de trabalhar, o médico volta a ter o comando do seu consultório.

O que se conseguiu, na realidade, com os planos de saúde, foi descaracterizar a profissão médica. Não mais existe o médico de família e, sim, o da vez, pois são escolhidos pela clientela de acordo com um livro que lista as especialidades e os especialistas. Não raro, o que conta é o sobrenome e não a capacidade do doutor. Um diferente soa mais pomposo que um comum, mesmo que a capacidade do pomposo esteja muito abaixo do comum. Por isso as consultas se multiplicam, já que a insatisfação faz com que se mude de médico várias vezes; o que, na realidade, aumenta os custos e não deixa as consultas terem um preço mais justo.

Em função disso tudo, além do cansaço inerente aos 40 anos de formado que se completarão em 27 de junho, dei adeus aos meus planos de saúde. Continuo com meu consultório, com a certeza de que o fecharei para sempre, em breve. Chega um momento em que nos rendemos à realidade e admitimos que a hora de parar chegou. 

Pretendo me dedicar mais à comunicação social, pois o ser humano tem uma necessidade constante de produzir, de se sentir útil e atuante.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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