Um clube de serviço em prol de uma causa mundial

quarta-feira, 28 de maio de 2014

No último dia 7, o título da minha coluna foi: "O fantasma da paralisia infantil volta a assustar o mundo”. Na busca de uma pauta para desenvolver, tinha feito uma leitura do jornal francês Le Monde, de onde tirei a inspiração para escrever sobre aquele assunto.

Após a publicação do artigo, os rotarianos Carlos Rapiso e Rodrigo Coimbra (presidente do Rotary Caledônia) conversaram comigo sobre o trabalho social e humanitário desenvolvido pelo Rotary Club, e me deram material suficiente para mostrar a dimensão e a importância do papel por eles desempenhado na tentativa de erradicar por completo a poliomielite no mundo. 

Em 1978, por iniciativa própria, essa instituição desenvolveu um projeto para a imunização de seis milhões de crianças nas Filipinas. Em 1985, o Rotary Internacional se lançou num projeto muito mais ambicioso, o Polio Plus, cuja meta era a erradicação da doença em escala mundial, além de estimular as imunizações contra outras cinco doenças comuns nas crianças, a saber: a coqueluche, a difteria, o tétano, a tuberculose e o sarampo. Por trás dessa iniciativa, estava o esforço para acabar com a transmissão da pólio no Afeganistão, na Índia, na Nigéria e no Paquistão, países onde ela ainda era endêmica. A partir desse projeto surgiu a ideia de criar, em 1988, o GPEI (em português Iniciativa Global de Erradicação da Pólio), uma parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Unicef e o Centro Norte-Americano de Controle e Prevenção de Doenças. A Fundação Bill e Melinda Gates também é parceira e, recentemente, Jeff Raikes, CEO da Fundação Gates, disse que será feita uma equiparação de 2:1, até um máximo de trinta e cinco milhões de dólares, para cada dólar que o Rotary destinar ao fechamento da lacuna de financiamento para completar a erradicação da pólio até 2018. "Isto significa que podemos chegar a mais de quinhentos milhões de dólares com as doações do Rotary e a nossa equiparação.” 

O GPEI fez progressos evidentes ao longo desses anos, desde a sua fundação, pois se em 1988 havia 125 países onde a paralisia infantil era endêmica e um total de 350 mil casos relatados da doença, esse número recuou para 20 países em 2000, com apenas 719 casos e em 2013, eram três países e apenas 406 notificações. Aliás, em 2012, a campanha pela erradicação mundial da poliomielite teve um novo motivo para comemorações quando a Índia, até então considerado o epicentro do vírus selvagem da pólio, comunicou estar há um ano sem registro de novos casos.

Mas o GPEI opera milagres, talvez pela amplitude de conhecimentos de seus parceiros. Por exemplo, nas guerras que envolveram o Chade, o Afeganistão, a Somália e o Sudão, houve um contato com as facções inimigas, que se dispuseram a respeitar um cessar-fogo temporário, para que as crianças desses países pudessem ser vacinadas. O Rotary também foi muito importante nas negociações que levaram a reuniões, em janeiro de 2011, com Asif Ali Zardari, na época presidente do Paquistão, nas quais ele se comprometeu com um plano emergencial para erradicar a pólio do país.

Com relação às vacinas, duas são as existentes: a VOP (vacinas orais contra a pólio, fabricadas com vírus atenuados, muito usadas na erradicação mundial da doença) e a VIP (vacina contra a pólio, fabricadas com o vírus morto, administrada por via intramuscular, usada nos países onde a pólio já foi erradicada). No caso da VOP, ela pode causar a Vapp (paralisia flácida associada ao vírus vacinal). Entre 1995 e 2001, dez casos de Vapp foram confirmados, resultando numa estimativa de incidência de um caso para cerca de cinco milhões de primeiras doses de VOP administradas. 

Como a VOP é mais prática para a imunização de um grande contingente populacional, desde 2012 o Brasil adotou os dois procedimentos, com a VIP passando a ser aplicada somente nas crianças que estavam começando, naquele ano, a imunização contra a poliomielite. A primeira dose dessa vacina é administrada aos dois meses de idade e a segunda, aos quatro. Aliás, o Brasil caminha para o 35º ano de campanha de vacinação contra a paralisia infantil, agora com o objetivo de impedir o surgimento de casos importados da doença. Foi graças à mobilização do poder público e da sociedade civil, tendo à frente o Rotary, que o Brasil não registra novos casos da doença desde 1989, pois o último que se tem notícia ocorreu na Paraíba, naquele ano.


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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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