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Lambanças do governo e da oposição
terça-feira, 13 de maio de 2014
Foi dado início a mais um espetáculo triste, tipo Ópera Bufa, patrocinado pela classe política do Brasil, talvez a mais abjeta entre todas. Partiu da oposição o pedido de CPI para investigar o desvio de altas somas em dinheiro da outrora mais sólida e conhecida empresa brasileira, a Petrobras. Ciente de que o mau cheiro que exalará dessa investigação respingará no governo, em ano eleitoral, nossa presidente instruiu PT e aliados a patrocinarem uma CPI para as lambanças do PSDB no metrô de São Paulo, e do PSB na refinaria Abreu Lima, em Pernambuco.
Tratam-se de negócios escusos de ambos os lados, escudados no pensamento vigente no Brasil, da impunidade dos crimes do colarinho branco e que merecem ser esclarecidos, não importam as consequências. Mas, como Dilma e sua turma se veem ameaçados de perder as mordomias e o poder, mantidos a preço de ouro nos últimos 12 anos, a estratégia é simples: focar no que mais lhe interessa — ou seja, as CPIs contra a oposição, para tirar a Petrobras de cena, enfraquecer o vizinho e recuperar o prestígio, que desce ladeira abaixo.
Culpados somos todos nós, não interessa se o rombo imposto pelos "maus feitos” da Petrobras sejam maiores que os outros dois. O importante não é a apuração em si, mas manter a áurea de "bom moço” como garantia dos votos que manterão no governo um dos maiores esquemas de corrupção já vistos nesse país. Com maioria no Senado e na Câmara, a CPI proposta pela oposição só começaria, se começasse, após o pleito de sete de outubro.
Triste Brasil, grande no tamanho, ínfimo na qualidade de seus políticos e de seu povo (afinal, somos nós que os elegemos), na incompetência crônica de crescer e se tornar não mais um país do futuro, mas o país do presente. Tudo aqui cheira a maracutaia. Ou alguém tem dúvidas de que a insistência de Lula em trazer a Copa para o Brasil não era manobra eleitoreira? Jogada de mestre, pois as eleições serão três meses após a competição. Caso o Brasil seja campeão, haverá cabo eleitoral mais poderoso? Lembremo-nos de João Figueiredo, grosso e lúcido, que instado a opinar sobre a validade de uma Copa aqui em 1982, respondeu que o Brasil tinha coisas mais urgentes para resolver.
Fala-se muito nos legados da Copa. No entanto, fora os elefantes brancos, o que existe de concreto? A mobilidade urbana nas grandes capitais não foi modernizada; a saúde pública é lastimável (coitado do turista que dela porventura precisar durante o torneio); nossos campos de pouso internacionais estão defasados e obsoletos; o aeroporto de Guarulhos foi inaugurado em 11 de maio, mas só entrará em funcionamento pleno após a Copa. Pode? Na Terra do Cabral, tudo pode.
Mas, o que é pior, nossa cultura, que poderia ser divulgada e mostrada aos estrangeiros em visita ao Brasil, será pouco divulgada, pois poucos são os museus com funcionários bilíngues e preparados para receber turistas de outras nacionalidades. E deverão estar fechados, numa greve por melhores salários.
O pior de tudo é que tempo foi o que não nos faltou, pois em 16 de março de 2003 a Conmebol decidiu indicar o Brasil como candidato único para sediar a Copa de 2014. Em 30 de outubro de 2007, a Fifa anunciou oficialmente o Gigante Adormecido como sede da Copa em 2014. Portanto, com uma antecedência de sete (será efeito de conta de mentiroso?) anos.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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