Observatório - 10/05/2014

sábado, 10 de maio de 2014

Hoje é dia de crônica

 

Carta para minha mãe

Sabe, mãe, as coisas por aqui estão mais difíceis sem você. De vez em quando bate aquele arrependimento por não ter almoçado com você todos os dias ou por não ter, naquela tarde de domingo, sentado no sofá só para ver televisão com você. Ao mesmo tempo, vem na memória a lembrança de ter ido com você ao shopping e ter sido decisivo na escolha do brinco menos extravagante ou da camisa verde em vez da azul. Você sempre fica linda de verde! Sinto tanta falta desses momentos arroz com feijão e ovo mexido. Temo esquecer o som da sua voz. Não esqueço a paz alegre do seu sorriso.

Se eu pudesse dar um conselho a todos, diria: não perca um dia, um momento sequer com sua mãe! Não há nada que se compare! Não haverá nada que lhe fará mais falta!   

Mãe, não há um dia sequer que eu não pense em você, que eu não me lembre de você. Todos os dias, antes de dormir, me surge aquele pensamento: "Que saudade de você, mãe!”. Não é diferente quando acordo. O mesmo sentimento me invade. Não há uma decisão sequer que eu tenha que tomar sem que eu me pergunte o que lhe agradaria mais. Sei que, às vezes, não lhe agrado, sabendo que compreende que só estou tentando cumprir o meu destino. Por que as mães são tão compreensivas? Seus desejos nunca são cobranças. Seus afetos sempre impedem condenação. 

Tenho acumulado muitas pessoas boas. Muitas você conheceu. Outras não. É verdade, mãe. Também há uma ou outra não tão boa assim. Mas são irrelevantes. Não há com o que se preocupar. Se estivesse aqui, saberia onde encontrar abrigo... Seu colo, agora, está no divino e é com esse divino que entro em casa quando as multidões me deixam. 

O meu caminho se tornou mais árduo por não ter você ao lado, ainda que eu sempre lhe carregue no coração. Em algumas noites é difícil conseguir dormir pela ausência física de sua bênção. Mas são as lembranças, o amor que ficou me permitem seguir em frente para me tornar um bom filho para a humanidade. 

Ouça a sua mãe! Mãe sabe o que diz. Simplesmente, as mães sabem o que fazem e dizem...    

Sei que a dor se aquieta não tanto quanto a saudade. Sei que o mundo não parará para que a alma receba curativos. Mas, mãe, em meu coração você para sempre estará. Os meus olhos sempre brilharão ao ver uma foto sua ou recobrar uma dessas lembranças corriqueiras de fatos aparentemente banais. Nada foi banal. Nada em uma relação de filho e mãe é banal. Queria tanto ter percebido a importância de cada minuto...     

Ah! Como foi bom cantar com você e poderia ter sido melhor se eu pudesse cantar de novo aquela canção do Roberto que diz como é grande o meu amor por você. É tão grande que sei bem que nunca mais haverá outro, ainda que amores possam me fazer visita ao longo da vida. Sei bem que nenhum será maior ou igual. É incomparável. Único. Impossível de se repetir.

Mãe, queria poder entregar essa carta para você como aquele livro de fotografias que falam do amor de um filho por uma mãe. Do meu amor por você! Se lembra? Foi em um Dia das Mães de um maio florido, como sempre próximo ao seu aniversário. Maio passado, colhemos frutas nas árvores, fizemos massa de pastel, caminhamos pelas trilhas onde você nasceu. Foi tão mágico que parecia o último. Foi o último... E, no fundo, no fundo, eu sabia, sem querer acreditar.  

Olho para o pulso e no braço o relógio que me mostra que o tempo está passando. Foi o relógio que você me deu. O último presente que aceitei sem querer aceitar. Mas obedeci porque disse que um homem sério precisa usar relógio. Estou usando, mãe! Só aceitei o caro presente porque em seu íntimo me dizia sem uma palavra que seria o último. Confesso que naquele dia chorei por uma estranha angústia. Eu não quis ouvir a voz do vento. Eu quis rechaçar a ideia de te perder. Não queria que fosse...

Esse é o primeiro Dia das Mães sem você. Não creio que será o mais difícil dos dias. Todos os anteriores foram, como muitos ou todos os outros serão. Quantas vezes quis fugir do mundo para me perder de mim mesmo e dessa dor e nostalgia que me invadem. Você me ensinou a ser forte, perspicaz e autor da minha biografia. Mas nela, não nego que invejo quem ainda tem a sua mãezinha ao lado, quem tem a sorte de ter mãe por mais tempo que tive. Agradeço pelo tempo que me foi concedido, mas queria mais, muito mais... Aconselho mais uma vez: ame sua mãe! Aproveite cada momento. A vida é um instante. Pessoas que amamos nos serão tiradas mais cedo ou mais tarde.

Soluço apego à fé do reencontro. Desapego para crer de novo. Tudo ficará bem... Ausência sofrida. Presença forte. Posso até esquecer o som da voz, mas é impossível deixar de lado o que ela diz. Posso até esquecer algum momento, mas jamais o sorriso que plantei em seus lábios. Mãe, posso até ter dificuldade em reconstruir seu rosto com todas as rugas e botox aplicado, mas é impossível esquecer suas mãos me fazendo carinho. Não há como te esquecer. É difícil viver sem você. 

Mas sei que eu ainda tenho mãe, ainda que não esteja materialmente presente. Para sempre terei uma mãe. Porque mãe é sentido, espírito, história, amor único e infinito. Em mim, sobrevive. Por você, continuo.

Ame sua mãe! Escreva cartas para ela não só em datas especiais, mas em qualquer dia. As minhas cartas para minha mãe agora precisam da ajuda de anjos para serem entregues. Seja o anjo em vida para não necessitar da ajuda dos céus para entregar as suas. Diga como são belos seus cabelos, como são saborosas suas comidas, como são divinos os seus conselhos. Como é boa a ligação telefônica nos momentos mais inconvenientes. Sinto falta disso... Reforce como é bom cada momento, no sonho de poder repeti-los tanto o quanto for possível. Reconheça cada dom, especialmente o dom único e magistral de ser mãe.

A saudade não supera a ausência, mas o amor faz ser forte a fé e a presença nesse terreno de perdas e ganhos. Nunca perdi minha mãe. Ninguém nunca perde a sua mãe. Porém, é sabido e é bom que se saiba, um dia ganhará saudade interminável nesse espaço-tempo mortal. 

São saudades que não passam. São, mãe, saudades eternas do seu filho que tanto lhe ama e que continua cantando "como é grande o meu amor por você”...

Logo te reencontro mais do que nesses reencontros estabelecidos em doces lembranças.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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