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O fantasma da paralisia infantil volta a assustar o mundo
quarta-feira, 07 de maio de 2014
A Organização Mundial da Saúde emitiu no dia último dia 5 de maio, segundo o jornal francês Le Monde, um alerta de urgência de saúde pública de extensão global, em virtude do aparecimento de casos de poliomielite (paralisia infantil) em vários países. Desde janeiro, casos relatados no Afeganistão, no Iraque e na Guiné Equatorial fizeram com que a OMS convocasse uma reunião de emergência, que decidiu pelo alerta global com o objetivo de reforçar o empenho para a erradicação da doença, que desde 2008 diminuiu o número de casos em mais de 99%, passando de 350.000 para apenas 406 em 2013. Ainda de acordo com o Le Monde, em 2014 a paralisia infantil permanecia endêmica em três países, a saber: Afeganistão, Nigéria e Paquistão, enquanto que em 1988 eles eram 125.
A poliomielite é uma doença viral aguda, infecciosa, cuja transmissão é de pessoa a pessoa, sendo a via fecal-oral a principal fonte de contaminação. Essa denominação vem do grego "polios” (cinza), "myelós” (medula), acrescida do sufixo "itis” (inflamação), ou seja, inflamação da substância cinzenta da medula espinhal. Jakob Heine, em 1840, foi a primeira pessoa a caracterizá-la como doença e o seu agente causador, o poliovírus, foi identificado, em 1908, por Karl Landsteiner.
Durante o século XIX, não se teve notícias de grandes epidemias de pólio, no entanto, ela foi uma das doenças infantis mais temidas no século XX, sendo causadora de deficiências físicas em milhares de pessoas, principalmente crianças. Ela tem, como em todas as viroses, caráter sazonal, com os principais picos ocorrendo no verão e no outono, principalmente nos países de clima temperado. Seu período de incubação (tempo decorrido entre a contaminação e o aparecimento dos primeiros sintomas) varia entre 6 e 20 dias, podendo chegar aos 35.
De modo geral, existem três formas de infecção: as infecções subclínicas, as não-paralíticas e as paralíticas. As subclínicas podem se manifestar com mal-estar, dor de cabeça, febrícula, garganta congesta e dolorida e vômitos, sintomas de uma virose comum. No entanto, em 95% dos casos é assintomática. A forma não-paralítica é mais grave, com duração de uma a duas semanas, em que o paciente pode apresentar fadiga, diarreia, febre, dores nas pernas, rigidez muscular, erupções na pele, vômitos, entre outros. Já a forma paralítica é a mais grave, cuja manifestação inicial é febre entre 5 a 7 dias antes da instalação dos outros sintomas, numa sequência que vai terminar no comprometimento muscular de um ou mais membros, muitas vezes de maneira assimétrica, ou, o que é mais grave, da musculatura torácica, obrigando o paciente a respirar com o auxílio de aparelhos pelo resto da vida.
O tratamento das duas primeiras formas é o de qualquer virose. Já o da terceira fase é inexistente, pois a paralisia é irreversível — portanto, sanadas as complicações iniciais do tipo infecciosas, respiratórias, motoras, só funcionam as medidas de apoio, para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Assim, a prevenção, através da vacinação de massa e de medidas concretas de saneamento básico, é indispensável para impedir a instalação de uma epidemia da doença, já que sua propagação é rápida. Por isso o alerta da OMS, para que os países façam da prevenção a maior arma contra a poliomielite.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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