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A Copa vai ser uma goleada
quinta-feira, 10 de abril de 2014
A Copa nem começou, mas as oportunidades de tirar vantagem do visitante já.
Driblar a mesmice, atacar com objetivo e cabecear a bola do preço de oportunidade são jogadas previsíveis em qualquer copa do mundo, em qualquer lugar do mundo, e não vai ser no Brasil que isso vai ser diferente, pelo contrário.
Todos nós sabemos da absoluta falta de estrutura no recebimento ao turista e sabemos também que isso vai gerar um sem fim de oportunidades de negócios a preços muito diferentes do normal. Afinal, se um Rock in Rio já gera leilões por táxis, a copa do mundo vai gerar tiroteio por garrafinha de água sem gás.
Essa semana, grandes redes de hotéis no Rio de Janeiro foram multados pelo Procon do estado por não exibirem preços referentes aos períodos do Carnaval e Ano Novo passados. É que o Procon acredita que é preciso ter uma comparação com os preços propostos para o período da Copa do Mundo, com outros de alta temporada, de modo a evitar os esperados abusos.
Esse acontecimento não é um fato isolado. A prestação de serviço sofre de um imenso mal que impede o estoque; assim, adequar-se a grandes demandas é quase impossível, resta ao prestador de serviços observar a fila em sua porta sem poder atender ou usar de oportunismo para lidar com as urgências ou excessos da demanda.
Quanto custa uma cerveja na praia num dia de calor, pleno verão, as três da tarde? E num dia de frio, chuvoso, plena quarta-feira? O vendedor de cerveja sabe que seu isopor tem limitações e sua capacidade de atendimento também. Por mais que a cerveja possa ser estocada, a ação de vender e estar no lugar certo, na hora certa, é limitada e, portanto, obedece a oportunidades de negócio.
Hotéis sempre operaram com preço gerenciado por resultado, com os períodos chamados de alta e baixa temporada. Nesta lógica, seus preços sempre oscilaram na mesma mecânica, e esperar que os preços em plena Copa do Mundo obedeçam a limites comparáveis a alta demanda ainda é injusto, pois a Copa é, sim, um mega evento, que traz consigo mega demandas e mega oportunidades.
Claro que, na condição de turista, me preocupa e me frustra o oportunismo, mas na condição hipotética de consultor, gestor ou dono de uma empresa em meio a esse mar de oportunidades na praia de Copacabana, acredito ser um imenso erro tratar tal situação como comum ou como uma curva de demanda sazonal e usual.
Largando a demagogia populista, em qualquer escola de negócios minimamente séria, decisão de preço nunca foi função de custos; estes auxiliam apenas na informação de viabilidade econômica ou não do item ou projeto. O que define preço mesmo, entre muitas possibilidades, é demanda. Até onde a demanda suporta e até onde se pode entregar. Ou seja, qual o nível de preço tolerado pelo comprador e qual o nível de entrega do fornecedor. Assim, delimitar preço tem tudo a ver com oportunidade, em especial em serviço.
O Procon e os consumidores que se preparem. Há uma intensa partida a ser jogada à frente. No país do futebol, dos oportunistas e de poucas oportunidades, vender mais caro do que o normal não é falta: é gol.
Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração
e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental, professor titular
da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação
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