Observatório - 15/03/2014

Quero me acabar em um texto triste. Desses que as lágrimas despencam enquanto as palavras se soltam no papel. Estou de saco cheio dessa espera toda, dessas escolhas que faço... Desses errantes passos do meu coração! Quero expurgar de uma só vez todos os meus amores que me pesam o lombo. Ficar vazio, ainda que longe de ser pleno. 

Ser repleto? Está aí um sonho que não sonho mais. Desesperadamente, quero abater os voos que minha insanidade faz. Desprezar as tempestades solares dos beijos molhados demais que não me agradam. Solicitar que os céus enviem para mim bocas de beijos molhados que me roubem a lucidez... Ajoelho-me perante a convicção do que me confidenciam os meus mais íntimos segredos: sou confusão, contradição, seja lá o que isso for... 

Tudo que mais quero é o que não preciso. Tudo que mais preciso é o que não quero! Quero o amor, sem a dor! Quero a história, sem a despedida.

Continuamente, cultivo o desejo pelas paixões, porque preciso estar apaixonado. Não mais queria... A paixão é o que move tudo, todos. Gostaria de ficar parado como o sol. Deixar os planetas e satélites girarem em torno de mim, enquanto eu apenas visualizo a beleza que me interessa.

Queria ser mais interessante. Gostaria de sentir menos saudade. Como doem as ausências. O cansaço corrói quem insiste. A insistência por vezes flerta com a humilhação. Por que esperar?

A esperança pode ser bela, tanto quanto frustrante. É tão difícil!

Permitir que entre pela porta aquela que me acena e expulsar das minhas entranhas essas que me invadem os pensamentos. Sai daqui! Me deixe! Me liberta... Volta! Não vá embora ou me leve com você! Raiva! Fraqueza travestida de sorte! Tudo é tão mais fácil para os outros! Por que tem que ser difícil só para mim?

Imagino o dia que chegará amanhã! As horas me atormentam e fujo de realidades objetivas demais! A poesia me condena! A canção desses olhos me tornam eufórico! Mas depois da euforia vem a depressão! Vício fatal! A dependência é o ócio de quem tem fé! Chegará para mim, talvez não chegue para todo mundo! Por quê?

Onde mora a capacidade de perceber? Já me permiti demais! Percebi de menos. É preciso mudar!

O vento sopra contra a minha direção! O horizonte se fecha nas minhas costas! O sol nasce onde não posso ver. Minhas asas dançam em aurora boreal distante. Meus passos jamais chegarão lá!

Antes que o rosto envelheça, antes que a contradição me carregue, peço perdão por meus pecados, pelas minhas intenções de encontrar aquilo que deveria me achar mais do que por mim ser procurado.

Deslizarei pelo riacho de deságue misterioso em uma pétala de margarida. Será a pétala do mal me quer ou do bem me quer? A incerteza é mesmo divina, tanto quanto é cruel o que pode fazer com a gente no final! Ao final saberá... Ao completar das horas parará o coração! A alma costurada por cicatrizes perdurará. O mapa das cicatrizes mostrará como foi árduo o caminho e quantas foram desnecessárias diversas estradas. Os atalhos são perigosos, mas apaixonado louva o risco! É o caminho... Não deixem notar que sou contradição! O coração é enganoso, eu sei, mas deixo-me conscientemente me enganar! Tudo que não quero mais é, na verdade, tudo que desejo. Paixão, venha me visitar e insistirei para que fique! Não ficará, sei também, mas deixa a ilusão da permanência me consumir. A diversão está na vela queimando, mais do que propriamente quando a cera acaba e o barbante findado faz o fogo deixar de existir! Pelo fogo queima e, ao se queimar, o fogo deixa de existir. A luz cega, mas quando cessa, igualmente cega. Os olhos atentos voltaram! Ninguém quer dançar comigo! Quem quer dançar comigo eu dispenso com elegância ou ingenuamente não percebo o convite! Não era hora de chamar você para dançar, mas eu quis... Não me contive. Estou tão errado que estou só! Vejo tudo ao meu redor em 360 graus. Preciso escapar. Já é hora de ir. O inverno acotovela o outono. É hora de dormir! O amor não chegou para mim...