Violência no Brasil – Tudo começa no lar?

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A violência aumenta no Brasil quando consideramos seus vários tipos, indo desde acidente de trânsito até a corrupção, que é uma violação que machuca a população.

Vejamos dados do excelente trabalho "Mapa da Violência – 2011 – Os Jovens dos Brasil”, de Julio Jacobo Waiselfiz, 1a. Edição, Instituto Sangari e Ministério da Justiça do Brasil. Texto integral em: http://observatorio.c3sl.ufpr.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/231/MapaViolencia2011.pdf?sequence=1 ou no site www.mapadaviolencia.org.br com dados mais atualizados.

Violência é definida pelo autor acima como "a noção de coerção ou força; o dano que se produz em indivíduo ou grupo de indivíduos pertencentes a determinada classe ou categoria social, gênero ou etnia.” E acrescenta: "há violência quando, em uma situação de interação, um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou a mais pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais” (op.cit., p.10).

As causas da violência são variadas e complexas para que esta possa ser definida no curto espaço nesta coluna. No trabalho acima, foram analisadas no país índices estatísticos de violência por homicídios, acidentes de trânsito e suicídio. Vejamos dados comparativos entre 1998 e 2008 sobre homicídios, lembrando que em 2008 o Brasil tinha 34,6 milhões de jovens entre 15 e 24 anos de idade, representando 18,3% do total dos 189,6 milhões de habitantes que se projetava para o país, e considerando que muitos casos de violência não foram notificados. Portanto, os dados a seguir seriam menores do que a realidade.

O número de homicídios (assassinatos), que em 1998 era de 41.950, subiu para 51.043 em 2003. A partir de 2004, caiu 5,25%, talvez devido à política de desarmamento. Oscilou em 2005 (47.578), voltou a subir em 2006 (49.145), caiu em 2007 (47.707) e voltou a subir em 2008 (50.113). Dentre os 26 estados do Brasil mais o Distrito Federal, os 5 primeiros com maior índice de homicídios entre 1998 e 2008 foram, em ordem decrescente: Alagoas, Espírito Santo, Pernambuco, Pará e Amapá. As capitais com maiores taxas de assassinatos neste período, na mesma ordem, foram: Maceió, Recife, Vitória, Salvador e João Pessoa. Curitiba veio em sexto lugar. Dado interessante: os homocídios neste período aumentaram proporcionalmente no interior, mais do que nas regiões metropolitanas e capitais, talvez porque no interior ocorria menor proteção contra a violência pelos aparelhos do estado e porque o melhor aparelhamento das polícias nas grandes cidades fez a criminalidade migrar para áreas de menor risco para os bandidos.

Entre jovens de 15 a 24 anos, os homicídios atingem o pico da expressão, principalmente a partir dos 20 anos de idade, com  cerca de 63 homicídios por 100 mil jovens. Quanto à cor da pele das vítimas, em 2002, no Brasil morreram proporcionalmente 45,6% mais negros do que brancos. Em 2005, morreram 80,7% mais negros que brancos. E em 2008, a mesma discrepância foi de 111,2%. Acima do dobro! Em Alagoas, foram assassinadas 12 vezes mais pessoas negras do que brancas.

Quanto ao sexo, 92,0% das vítimas de homicídio; 81,6% das mortes por acidentes de transporte e 79,1% dos suicídios ocorreram com homens. E se compararmos estes dados brasileiros com os de outros países, vemos que o Brasil fica em sexto lugar, vindo antes, pela ordem de maior número de assassinatos na população total, de El Salvador, Colômbia, Venezuela, Guatemala e Ilhas Virgens (EUA). 

Entre 2008 e 2010, os cinco municípios com mais de 20 mil habitantes com maior índice de morte por arma de fogo, foram, pela ordem de maior frequência para a menor: Simões Filho (Bahia), Campina Grande do Sul (Paraná), Lauro de Freitas (Bahia),  Guaíra (Paraná) e Maceió (Alagoas). Nova Friburgo ficou no 458º lugar, Teresópolis no 925º, Petrópolis 1012º, São Fidélis no 1071º, Cordeiro no 1100º e Bom Jardim no 1116º.

Violência se liga a vários fatores, incluindo problemas familiares graves durante a infância, como alcoolismo e outros vícios destrutivos, divórcio, pais agressivos e abusivos, pais permissivos que não colocam limites para os filhos, que crescem se achando os donos do mundo e com limiar baixo de frustração. Injustiça social gritante. Corrupção muito cínica nos poderes públicos, que gera revolta no povo. Falta de práticas espirituais no indivíduo. Cultura pós-moderna que prega que o que vale é o que você sente (sentimentos). Desesperança pelas atitudes contraditórias de religões "comerciais”, cujos líderes pregam o que não vivem, sendo materialistas. Falta de autocontrole emocional. Alimentação de qualidade ruim, que estressa o cérebro. Ênfase doentia da mídia na competitividade, na vida sexual desregrada, na erotização e superficialidade das relações, que arrebentam com a conduta ética equilibrada. Dificuldades na legislação do código penal brasileiro, que libera criminosos por "falta de provas” e inocenta corruptos "por falta de provas” ou por "imunidade parlamentar”. Abusos do governo quanto à cobrança de impostos sem retorno para a população, gerando mais revolta. Más companhias. Falta de melhor educação. Desinteresse do indivíduo pelo fraco ensino, leis "esquisitas” que protegem o menor violento que agride o professor na sala de aula. E tantas outras causas.

Se você é pai ou mãe, comece a prevenir a violência no seu filho com boa educação, bom exemplo, alimentação saudável, oferecendo princípios espirituais saudáveis (não fanáticos e materialistas), manifeste afeto, coloque limites sem ser inflexível ou permissivo. Não abra mão da autoridade no lar, porque quem manda em casa é o pai e a mãe. Muito da prevenção da violência mais tarde na vida realmente começa no lar. É aí que é posto o fundamento do que a pessoa será no futuro. 


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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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