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Observatório - 22/02/2014
sábado, 22 de fevereiro de 2014

Hoje é dia de crônica
Escova de dente
Nada mais íntimo do que escova de dente. Uma escova na casa dele, outra escova na casa dela. Invadir com licença total a casa, o quarto, a cama, a vida do outro, que já não é outro qualquer. É quem faz brilhar os olhos e consome prazerosamente as horas do dia. No pensamento, nos planos, na nostalgia... No desejo de ver, ser, estar.
Juntar as escovas de dente. Colocá-las no armarinho do banheiro ou no pote sobre a pia. A rosa e a vermelha. A azul e a roxa. Lado a lado, como os corpos que se unem em um só. As escovas beijam-se como os lábios. Encontram-se como os braços no abraço de aconchego. Descanso de quem esperou e encontrou a escova que se encaixa a sua, ou melhor, o sorriso que se faz estabelecer sorriso no rosto. Não estou falando de aliança no dedo, nem assinatura em cartório, sequer de namoro. Falo de encontro.
Dormir. Acordar. O mesmo dono para a escova que está lá, ao lado da sua. E a escova pode e deve ser trocada de três em três meses, não o dono. Este fica.
A porta do infinito uma vez aberta, para sempre arrebata quem ousa entrar por ela. A escova de dente, aquele útil objeto, colocado na prateleira da casa um do outro, é a chave desta porta. Intimidade. Companheirismo. Descoberta do compartilhar para multiplicar razões de existir.
O amor se faz no encantamento, mas cresce mesmo é no cotidiano, na insistência do dia a dia que é repleto de ocultas poesias, que mesmo não tendo seus versos cantados, está ali debruçada à espreita para fazer brilhar o sol e dar luz à lua. O belo e nem sempre lembrado cotidiano.
Esse ir e vir de coisas que parecem bobas, mas que são tão legítimas e fundamentais nesta jornada de ser humano. Esse encontro que todos nós vicejamos... O outro se tornar estrela da sorte e da imaginação construir a realidade. Sim! O real é que faz a imaginação e a imaginação é que faz o real. O que faremos de cada um? O que faremos da junção e ambos?
Traz a sua escova de dente para a minha casa, enquanto entrego o meu coração a você. Deixo a minha escova de dente na sua casa, enquanto permito que more nos meus pensamentos. Visita boa. Faz diferença na corrida das horas, ao ponto que um dia sem ver ou ter aquela escova sendo usada é como um dia que se risca do calendário – não existe. Persiste a vontade e motivação tem força!
Escuta? Se ouvir, sabe o que o mundo está dizendo. Começa baixinho, geralmente muito tempo antes de gritar. Quando grita, não faz alerta de sirenes, mas barulho gostoso de festa. Anima sair da cama para correr nos jardins do parque de cerejeiras e lagos, brincar com os patos que fogem assustados, enquanto se vai entregue ao querer ter escova de dente na casa do outro e o outro na sua casa. Morada. Invasão permitida de quem há tempos quer enlace que não é casamento, talvez nem namoro (como já disse), mas companheirismo que completa, como a conversa louca sobre teses e conceitos que jamais se concluirão. Na verdade, a conclusão é o que mais se rejeita. A porta do infinito ensina que infinito mesmo se faz na descoberta e as descobertas não podem acabar nunca.
Convida a escova de dente do outro para nem precisar mais da sua, pois o sorriso abre brilhoso pelo simples aceite. Pode fugir para a cama, da conversa, do mundo ou no mundo escolher a Argentina para, na mesma mala, levar as escovas de dente. Argentina? As escovas dançarão tango em dezembro. O que dançará por todo o tempo antes e depois da Argentina? O real fará a imaginação e da imaginação a realidade!

Chiquinho, figura popular da cidade, é nascido em Santa Maria Madalena, mas já é um friburguense nato, pois está em Nova Friburgo há 30 anos! Começou sua jornada na cidade trabalhando na Cenf, a antiga Companhia de Energia Elétrica. Posteriormente, iniciou sua vida no comércio, onde está até hoje. Como hobby, entrou na área de comunicação e há sete anos apresenta o programa Dedo de Prosa, onde leva alegria e arranca gargalhadas com suas piadas e espontaneidade. Pai do André, já é avô. A pequenina Maria, de dois anos, tem o nome da mãe desta figura que se considera friburguense de alma e coração!

Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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