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Santiago: que seu sacrifício não seja em vão
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
A morte estúpida e inaceitável de Santiago Ilídio Andrade, cinegrafista da Rede Bandeirantes de televisão, ocorrida na quinta-feira passada durante as manifestações na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, deve ser motivo de profunda reflexão da sociedade, como um todo, e por alguns setores, em particular.
Estúpida, por ter sido provocada por míseros vinte e cinco centavos, número exato do aumento das passagens de ônibus autorizado pelos órgãos competentes, pois muitos dos participantes da passeata seriam capazes de desprezar uma moeda desse valor. Inaceitável, porque Santiago, além de ser um profissional competente, estava trabalhando naquele momento, o que a maioria dos que ali estavam não fazia; ao menos, não naquele instante fatal.
No entanto, grave é a acusação do advogado de Fábio Raposo e Caio Silva de Souza, supostos autores do disparo do artefato que feriu mortalmente Santiago. Acusação esta que merece investigação séria, feita com competência e que vá até as últimas consequências. Jonas Tadeu Nunes, o advogado, deu uma declaração à imprensa onde diz que alguns participantes desses movimentos são da periferia e recebem cerca de R$ 150 para participarem das passeatas e provocarem tumultos. Esses pagamentos seriam distribuídos por diretórios regionais de partidos políticos, vereadores e deputados estaduais, não só do Rio de Janeiro, mas também de São Paulo e outras grandes capitais, onde também existem protestos dessa natureza.
De direita ou de esquerda, manifestações públicas que começam tranquilas e terminam em pancadaria e quebra-quebra, com muitos feridos, alguns mortos e danos ao patrimônio público ou privado, não são nenhuma novidade entre nós. Um dos atentados mais famosos, oriundo da direita, foi o do Riocentro, no Recreio dos Bandeirantes. Se levado a cabo, teria matado e ferido muitos jovens que assistiam a um show musical. Felizmente, a bomba explodiu no colo de um sargento do Exército, matando-o, e ferindo gravemente um capitão. O termo "felizmente” é para reforçar o fato de que, nesse caso, o tiro saiu pela culatra e puniu justamente àqueles que ameaçavam a vida de inocentes.
Tanto de direita quanto de esquerda, o fim é sempre o mesmo, por mais idiota que seja: indispor a população contra os efeitos do ato em si a fim de justificar qualquer ato posterior de retaliação ou repressão. Na maioria das vezes, não surte o efeito desejado, porque eles, ao contrário, causam revolta e repúdio por parte da sociedade. No entanto, é inconcebível, caso as acusações do advogado Jonas Tadeu Nunes sejam verdadeiras, que partidos políticos – e mesmo parlamentares – estejam por trás desses tristes episódios.
Afinal, partidos grandes e pequenos têm como objetivo primordial a defesa da democracia e o seu pleno exercício, com o objetivo de garantir o bem estar da população. Vereadores ou deputados, em teoria representantes do povo nas diversas casas legislativas, têm de agir com decoro e respeito às leis vigentes. Qualquer ato fora desse contexto é inaceitável e digno de repúdio pela sociedade. E é aqui que entra a necessidade de termos um povo instruído e politicamente ativo; aqueles que se desviam do exercício honesto de seus mandatos deveriam ser banidos da vida pública e nunca mais reeleitos. Infelizmente, não é isso que ocorre e muitos renunciam a seus mandatos para não serem cassados e, no fim, conseguem voltar nos braços do povo, como se nada tivesse acontecido.
Que a morte de Santiago não seja inútil, que não caia no esquecimento, e que a sociedade, enfim, acorde e saiba afastar, em definitivo, aqueles que utilizam seus mandatos única e exclusivamente em seu próprio benefício.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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