Observatório - 23/11/2013

sábado, 23 de novembro de 2013
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Hoje é dia de crônica

 

Avestruz

Tem dias que a gente quer enfiar a cabeça no buraco e ficar lá no escuro do mundo, vendo o que há debaixo da terra para não perceber o que há por cima. Tem horas que a gente quer gritar e berrar muito alto para ver se tem alguém aí nesse universo todo que possa te ouvir. Ouvir apenas o grito, sem perguntar nada. Não me pergunte, porque eu não quero falar... Eu só quero gritar!

Um dia cheguei a acreditar que era possível se entregar por completo e esquecer que muitos ou o próprio mundo fazem da vida um jogo. Sabe, eu não quero jogar. Eu só quero ser eu mesmo do jeito que sou na forma que tenho. Mas não deixaram... Eu me permito, mas talvez o mundo não permita certas ousadias ou normalidades intensas demais.  

Caramba! Queria tanto poder querer e ter. Eu sei o que quero mais do que o que eu não quero. Eu sei sorrir, mas não sei fingir sorriso quando quero chorar. Minha alma escapa pelo meu rosto e despido o vento me faz sentir frio...  

Eu já quis ser adulto, tanto quanto voltar a ser criança. Eu já quis tudo, tanto quanto optei pelo nada. Eu não quero ficar aqui cantando todas as músicas e nem catando no chão todas as folhas das coisas que escrevi. Muitas das vezes eu nem lembro o que escrevi. Lendo uma dissertação e poesia minhas e tal até penso que foram outros que escreveram. O que sei, é que muitas das vezes parece que é difícil só para mim. Será que é difícil só para mim?

Estamos sós no meio da multidão! Estamos avós sem lembrar que os netos vieram dos filhos e que os filhos também somos nós. Estamos aqui meio que sem saber para onde ir indo para o inferno de nossos cemitérios ou para o céu de nossas angústias — penitência! Quem nos condenou? Ninguém nos condena mais do que nós mesmos!

Pensei que os dias de avestruz durariam menos ou para sempre. É preciso colocar a cabeça para fora como no dia do nascimento. A diferença é que no primeiro parto não tínhamos consciência, tampouco nossa imaginação estava tolhida. Eu voaria... Passearia pelos olhos de cada ser. Seria vento quente para cada um que se despisse para mostrar sua alma vermelha de quem tem sangue bombeado no coração.

Não estão preparados! Tanta espera para não estar preparado? Na há curso nesse sentido. É preciso se permitir! Se olhar, se compreender, se tocar, se viver! Amar. 

Paixão pela verdade que não cabe em si. Deixa extrapolar... Emoção nas causas que incendeiam. Menos avestruz, porque avestruz não voa! Humano sim! Ainda que também se esconda como avestruz, mas não é da natureza do homem se esconder... Onde foi que ele aprendeu a ser assim? Com o avestruz?

Liberta o que sente sem pensar nas consequências. É melhor digerir o que se disse do que engolir a seco o que não se declarou. 

Se minhas pernas bambeiam, deixa bambear. Se meu queixo treme, deixa derreter. Se meu medo me consome, deixa o medo sumir na atitude de ser feliz. Eu não tenho cartas nas mangas. Eu não tenho pudores que me intimidam a dizer. Gritarei quando tiver que gritar e chorarei veementemente a cada despedida. O mundo inteiro saberá do amor que sinto e navegarei nos olhos que me sorrirem e até naqueles que não olham para mim, afinal enquanto uns se eternizam avestruz, eu tento aparecer para o mundo apenas como humano.        

 

É quase um crime ir a Olaria e não comer a empada da Tia Solange ou Tia Sô, como carinhosamente é chamada pela comunidade. Quem faz as empadas é o Seu Rubens, mas como quem leva a fama é quem está com o público... Tia Sô já está na esquina da Presidente Vargas com a Rua São Roque, vendendo empadas e salgados, há 10 anos!


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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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