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Marketing de massa
quinta-feira, 11 de julho de 2013
Nunca fui fã das teorias da conspiração ou qualquer outra tese semelhante, mas estamos vivendo um momento rico sob o ponto de vista de como o poder estabelecido está utilizando todas suas ferramentas para desviar a atenção da população e eleitores. Uma guerra no direcionamento da opinião pública, que nem de longe passa pela liberdade do pensamento, mas pela caricatura da sensação desta e alicerçado no mais forte concreto da manipulação da opinião.
O absurdo da importação de médicos não tem o foco em importá-los, mas de gerar a discussão sobre o fato e esconder a discussão das questões maiores e das soluções reais dos problemas reais.
Sob a tese básica do "se não pode vencê-los, confunda-os”, de confusão em confusão o foco gira e a motivação, a causa, e sobretudo a solução, se afastam, e o poder se reagrupa, se reaproxima e volta a mamar nas tetas do meu, do seu, do nosso voto, imposto e fé, de que tudo poderia e precisaria ser melhor.
Os protestos iniciados calmamente e rapidamente ultrapassaram os confrontos políticos e ideológicos, e assumiram um confronto por saque ou baderna, onde estudantes apanhavam e baderneiros prosperavam. Pouco a pouco foi sendo dado espaço para fechar estradas, queimar pedágios, matar pessoas em ambulâncias em rodovias. Golpear a opinião pública era fundamental. Certamente não interessava ao poder coibir a baderna, para desestimular e desacreditar os movimentos. Assim como interessa que estudantes tomem porrada, tais cenas de violência funcionam para assustar pais e mães, e retirar a massa jovem que inflava as linhas de protesto, jovens com tempo e expertise em redes sociais, capazes de mobilizações nunca vistas antes.
O conluio não para por aí, ele excede e atinge a geração de fatos políticos de menor relevância onde um avião usado por deputado vira notícia nacional para ver se sua pele encarna a doce vingança da massa e a acalma. O poder rifou o jatinho para mídia e ela comprou (ou foi comprada...) para só falar disso, e esquecer o que realmente importa.
Uma guerra se ganha com informação, mas sobretudo com contrainformação, e deter poder de informação é papel fundamental do governo, e deve (e está sendo) cuidadosamente gerenciado.
Será que Dilma não sabia qual a regra do plebiscito? Ou melhor, será que nenhum de seus ministros ou assessores sabiam disso? Claro que sim, então por que o erro lógico do pronunciamento? Foco. O acerto está no erro. Quantos minutos de mídia foram gastos com esse assunto? Menos minutos para falar do que importa!
Na linha do confunda-os, enfraqueça-os, o governo federal teve o perfeito passo de chamar os líderes do movimento Passe Livre, não para ouvi-los, mas para calá-los, ou seja, ao fazer deles líderes, tornou todos os demais líderes enciumados e desfez qualquer representatividade que poderiam ter. Vaidade, poder, mosca azul. Uma vez picado, nunca mais se é o mesmo. O poder entende de poder e sabe como esmagar novos poderes. Marketing para a massa, para mantê-la massa, nunca líder.
A ineficiência de cada palavra da Dilma teve o cuidadoso propósito de desfocar a audição, ensurdecer a voz, calar o pensamento e atordoar a visão de um país que hoje é massa de manobra, porque o marketing de massa tem sido muito bem realizado. Pouca educação e muita bolsa, pouca transparência e muito estádio. Sem leões e sem cristãos, mas ainda com muito pão e circo.
Jean Baudrillard, um ídolo para mim, era um especialista em marketing de massa. Ele como ninguém entendia de controle de massa. Fecho esse artigo com uma frase dele: "O pior num ser humano é mesmo saber demais e ser inferior ao que sabe”.
A afirmativa fica e vale tanto para a massa que se cala apesar de saber, como para o poder que em vez de transformar, com seu conhecimento, a massa em algo melhor, contenta-se em fazê-la pior! Apática, conformada e pobre!
Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.
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