Observatório - 03/07/2013

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Muitos criticaram quem torceu pelo Brasil na Copa das Confederações, especialmente na final, enquanto outros muitos protestavam ainda nas manifestações país afora. Os protestos são justos, tanto quanto é justa a torcida pelo time de futebol. 

Não quero dizer que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas é preciso separar o joio do trigo. Não é porque o torcedor vibrou com a seleção que não concorda com os protestos. Da mesma forma, não é porque os manifestantes estavam nas ruas que são menos torcedores. Há uma grande confusão com esse extremismo em que você ou é torcedor ou é manifestante. O manifestante é torcedor, tanto quanto o torcedor pode ser manifestante. Ninguém é menos ou mais ideológico ou está mais ou menos indignado porque vai pra rua protestar ou para o estádio, o bar ou o clube para torcer.

No estado democrático o primeiro e maior direito é o de ir e vir. Liberdade de se expressar. Opinião agrade ou não a maioria é opinião que tem que ser respeitada.

As pessoas acham que só porque você torce pelo Brasil numa final de Copa diante do atual melhor time do mundo — a Espanha — você é adepto do pão e circo. Não! Não é por isso que você se torna alienado. Você torce, mas também sabe que é absurda a privatização do Maracanã, que o estado da saúde é crítico, que o trânsito está caótico e que a corrupção continua comendo solta em setores do Legislativo, Executivo e Judiciário. Mas na escolha de ir e vir, você tem o direito de se divertir, de ser parte do futebol, que mais do que um esporte é parte da nossa cultura.

Não é porque o Brasil foi campeão que a indignação diminuirá ou os protestos se calarão. Cada coisa no seu devido lugar. Acho até incrível a imaginação de alguns que dizem que a Espanha perdeu de propósito para o Brasil sair dessa batalha social. Ora, combinaram isso com os vinte e tantos jogadores espanhóis, o governo soltou dinheiro para comissão técnica e dirigentes? É muita gente para combinar algo que não cabe mais, não? O Brasil ganhou porque foi superior, embalado essencialmente por sua torcida, que deu um show à parte. As teorias de conspiração são dignas para filmes ou para a época da ditadura, mas aqui, nessa realidade atual, soa mais como colocar pingo onde não tem i. 

É inaceitável que quem vá para a rua como oprimido, de repente, vire opressor. 

Viva a liberdade inteligente de pensar e fazer! Melhor ainda se esse pensar e fazer for pela felicidade coletiva pelas conquistas no futebol e as sociais também!