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Gargalo Humano
quinta-feira, 21 de março de 2013
Gargalo Humano
A economia precisa de alguns fatores para seu desenvolvimento. Sendo minimalista, simplista e resumido, precisamos de dinheiro, compradores, vendedores, cultura de consumo (que pode substituir as necessidades e desejos reais) e gente para viabilizar o processo.
Cada vez mais o gargalo se aproxima das pessoas. Empresas, empreendedores, oportunidades, tudo cada vez mais precisa de gente que não tem perfil capaz de solucionar as demandas.
Prestadores de serviço encontram-se mais sujeitos a limitações que produtores de bens, pois quando se trabalha com serviço quase sempre a equipe está de frente ao consumidor, assim estando mais refém da equipe que realiza a prestação do serviço e dos danos que está pode causar ao consumo. Na produção de bens podemos isolar os erros e limitações da fábrica daquele que está na ponta, o tal do consumidor, com um bom processo de inspeção (aquilo que faltou a sucos Ades recentemente).
Semanalmente vejo clientes e empresas narrando dificuldades e limitações determinadas pela impossibilidade de crescimento, não pelo consumo, nem tão pouco pelo capital, mas pela equipe.
As pessoas estão impedindo que empresas cresçam, mas isso não é porque falta uma mão de obra especializada, ou porque requer anos de treinamento e especialização, ou porque a legislação exige formação específica (embora isso também ocorra, é claro), mas as empresas deixam de crescer porque faltam pessoas afinadas com os preceitos básicos de valores, como: responsabilidade, comprometimento, honestidade, ambição, entendimento que há um caminho a percorrer e que as chamadas oportunidades não são “sortes” que o cara tem, mas são consequências. A história do cara certo, no lugar certo, na hora certa é fruto de um caminho que foi percorrido e de uma longa disponibilidade para que a “sorte” sorrisse para você.
De onde vem isso? O que causa tamanha dissonância e aumenta o gap do mercado?
De um lado muitas escolas, cursinhos, faculdades e famílias insistem que formação acadêmica formal resolve todos os males, quando a crise é muito mais de valores, faltam processos que incentivem e motivem a inteligência, a iniciativa e a cooperação, é preciso que se entenda que o dia de amanhã é consequência do dia de hoje; não bastasse do outro lado a mídia faz frequente apologia ao malandro, ao sonho do jogador de futebol que enriquece e usufrui de um universo paralelo e constrói-se mitos, muitas fantasias que são frustrantes diante do dia a dia de um ser normal.
Instaladores, vendedores, pedreiros, estagiários, uma legião de trabalhadores insistem em acreditar que existem atalhos mágicos para a ascensão, ou mesmo acreditam que ganhar menos é bem melhor do que cumprir o combinado e, empresas e clientes seguem se redimensionando por conta disso.
Assim reformas são postergadas para evitar o assombro do pedreiro que nunca vem, novos clientes são cancelados pela dificuldade de obter e treinar um novo instalador, empresas recuam em novas filiais, pela dificuldade de constituir novas equipes de venda e gestão, agências não anunciam porque empresas freiam suas demandas ao invés de incentivá-las, fábricas fabricam menos, porque não tem quem venda, instale, construa etc. e assim o crescimento esbarra em novos fatores que, como se já não bastassem os de sempre, conspiram contra o desenvolvimento.
Nosso gargalo é moral, comportamental, e olha que ainda não sabemos matemática nem língua portuguesa direito.
“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC-Rio, pós-graduado em Engenharia Ambiental, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”
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