Mercado incontrolável

quinta-feira, 07 de fevereiro de 2013

Não pretendo focar outros aspectos se não o mercadológico, pois como pai e como sobrevivente de um incêndio, posso imaginar o desespero e dor que foi o incêndio na boate Kiss, mas quando pensamos em mercado, vemos o quanto ele é interligado, dinâmico e incontrolável.
A máxima do planejamento estratégico é levar em consideração, sempre, um plano B e C. Neste sentido, muitas e muitas empresas, segmentos e pessoas foram prejudicados e potencializados neste incidente.
Imagine boates às vésperas de inaugurar, por todo Brasil, com suas vistorias já agendadas, seus projetos pré-aprovados e tudo por água abaixo. Pense em quantas casas noturnas, teatros, cinemas, espalhados por todo país, sendo fechados porque uma boate no Rio Grande do Sul se incendiou. 
Imagine o quanto de espumas, mais caras e adequadas ao uso em ambientes fechados com presença de eletricidade e risco de incêndio não está sendo vendida e a que preço, agora. Quantos extintores a mais estão sendo comercializados, quantos projetos de prevenção e empresas que fornecem treinamento a brigadas de incêndio não estão faturando.
As mudanças podem ser transitórias, permanentes, afinal uma geração de jovens em Santa Maria e seus filhos deixarão de frequentar boates, diversos negócios focados em jovens sofreram por muito tempo com a diminuição de público consumidor, quer seja porque parte faleceu, outra traumatizada por muito tempo desaparecerá e outra por algum tempo.
Como em nossa Friburgo, durante a tragédia, negócios floresceram e prosperaram por conta de novos produtos e serviços urgentes, como outros tantos se foram por conta da perda física ou da mudança de região por parte dos consumidores, fornecedores, donos, funcionários, instalações etc.
O fato que o mercado tem grande plasticidade, muda há todo momento, ora de forma controlada, outras de forma imprevista e bruta, deste modo, o planejamento deve sempre resguardar um espaço mínimo as conjunções condicionais, que nos lembram e nos alertam sobre os riscos e oportunidades inerentes a empreender.
(silêncio)

Peço licença agora a dedicar umas linhas ao saudoso Laercio, então diretor de nosso jornal, por quem aprendi a ter muita admiração. Foi ele um homem de muitas vitórias no empreender, um homem que dedicou sua vida a informação e a nossa cidade. Deixa saudades, deixa uma valiosa herança aos filhos desta terra—amar Nova Friburgo e fazer a vida valer a pena. Um homem que dedicou a vida às palavras, em especial as escritas, nos deixa com todas elas, como um legado, mas nenhuma parece servir para explicar o vazio deixado. Descanse em paz.

“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, pós-graduado em Engenharia Ambiental, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”

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