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Marketing das drogas
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Curioso como algumas coisas que andam tão coladas são sucessivamente dissociadas.
No consumo há, por razões óbvias, a permanente dissociação do capital e trabalho, permitindo que compremos por preço e não por tempo de trabalho ou por abandono de outras coisas boas da vida. Outro par perfeito comumente separado são as drogas e a violência. Neste último a turminha do back, do pó, da pedra, do amor e dos ácidos insiste em crer que seu barato é da paz, e cinicamente insistem em dissociá-las de toda a violência que explora famílias nos campos, destrói outras tantas famílias em comunidades carentes, mata adolescentes em guerras do tráfico, mata outras tantas pessoas no asfalto em busca de dinheiro para mais drogas e corrói famílias com seus efeitos colaterais e corrompe uma sociedade.
A comunicação deveria insistir mais nisso. Deveria ser parte da educação, desde bem cedo, essa forte associação entre drogas e violência como encerrou nesta última terça feira a coluna do Massimo em menção direta ao ocorrido ensaio do Rastafare.
É urgente e preciso que todos entendam que a droga não é um inofensivo barato, mas um caro vício, que custa vidas (muitas vidas) na forma de morte e na forma e desorientação do verdadeiro sentido de se viver.
A crença de que é possível usar drogas sem causar o mal é tolice, mais é mentira, é uma covardia de quem não quer olhar o óbvio. Drogas são o mal em sua pior encarnação, sob o mais perigoso disfarce, sob o pior dos hábitos. A comunicação conseguiu criar um estigma sobre o cigarro. Transformou fumantes (de cigarros legais) em uma legião de excluídos, vítimas de um bullying incessante e que ninguém repreende. Fumar virou algo pior que roubar. E por que esse modelo venceu? Porque a comunicação elegeu esse tema como prioridade.
O álcool patina na perspectiva a sua apologia, ainda há forte relação em ser divertido, legal e bacana quem bebe, e há muita permissividade a sua propaganda e sinalização, e sua venda continua muito frouxa e segue com baixa fiscalização. A lei seca, com sua distorção, colocou na vala comum o motorista embriagado bêbado e quem tomou uma taça de vinho, e nas cidades preocupadas com o tema, vem reduzindo consumo e aliviando o trânsito, mas e as drogas?
Até quando a comunicação será conivente com as drogas e manterá desvinculado o usuário do traficante? Até quando serão tratados como vítimas os que fomentam essa cadeia de negócios e mortes? Quantos mais serão baleados até que o marketing crie um posicionamento claro entre tráfico e violência? Quando o mundo jornalístico e publicitário deixará claro a toda a garotada que drogas são bem piores que cigarros e cervejas, e que não é mais legal, nem mais feliz o usuário de droga e principalmente, que seu barato, custa vidas, muitas vidas.
“Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, pós-graduado em Engenharia Ambiental, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.”
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