Os produtos são entregues sem slogans

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Nada mais descabido que Papai Noel estar em todos os lugares ao mesmo tempo, entregando o presente de todas as crianças. Nada mais sem sentido que ele ter aquela pança farta e a chaminé (da casa que tem) ser tão menor que sua cintura. Nada mais estranho que ele usar um monte de renas, com tantos carros esportivos e pickups por aí. Mas porque nossas crianças, tão espertas, acreditam nessa história tão sem pé nem cabeça? Recompensa!
Ninguém critica aquilo que está dando certo. É da nossa natureza procurar defeito apenas no que nos incomoda; o que vai bem, deixa estar.
A historinha de Papai Noel nos ensina, desde muito novo, a negociar resultados. 
— Me comporto, estudo, e ganho presente. 
Exatamente como a vida dura e o mundo mau fazem tudo acontecer. 
As crianças, mais do que adultos disfarçados, são a semente das crianças crescidas que se tornarão, pois nós na verdade jamais iremos abandonar esse comportamento de recompensa, e isso vai explicar muitos comportamentos de consumo, no consumo, com consumo.
Nossa busca pelo novo, por aquilo que ninguém tem ou por aquilo que todos querem ser, é uma forma de voltarmos à infância, não em nossa ingenuidade, mas em nossa franqueza, na expressão espontânea do “eu tenho você não tem” ou naquela sensação de se sentir incluído naquele grupo que tanto se almejava.
A publicidade das grandes marcas com seu volume de dinheiro, com sua vocação conceitual, seu acesso aos grandes garotos-propaganda, capazes de arrastar multidões, e com seu planejamento de longo prazo é, de modo geral, vitoriosa na tarefa de criar em nós desejos por presentes e crenças em Papais Noéis, para que queiramos o desnecessário e almejemos o inatingível. 
Uma sucessão de itens, marcas, produtos, locais, gostos, cores, serviços etc., sempre mais, sempre com a promessa de seus slogans, de você melhor, você mais feliz, você mais tudo... sempre fazendo-nos crer que neste natal, ou nesta estação, ou neste lançamento, tudo será diferente. Repetidamente compra após compra, dívida após dívida, e uso após uso, as rotinas são mantidas. Os produtos não vêm com seus slogans.
Os problemas não se vão, a verdadeira felicidade não vem, mas ainda assim não contamos sobre “nosso” Papai Noel, pois afinal quem não tem tais itens continua acreditando que os slogans são entregues juntos com os produtos e assim, e no mundo de fábulas de Papais Noéis, o que parece já é o bastante, e de ilusões vive o iludido, mas também o ilusionista, e o consumo vai seguindo.
Papai Noel, o bom velhinho, segue firme, fazendo a alegria de crianças e adultos, de compradores e vendedores, e, quer saber, é bom demais assim como está! Feliz Natal!

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