Colunas
Natal de saco cheio ou vazio?
quinta-feira, 06 de dezembro de 2012
Mais um natal está próximo. Papai Noel ocupa as vitrines e surge novamente como grande personagem. Apesar do calor segue de roupa aveludada vermelha, cobrindo todo o corpo e, para piorar, de gorrinho com pom-pom; e aí de quem tentar tropicalizar o bom velhinho, nosso inconsciente coletivo não aceita mudanças na vestimenta, seja na cor ou qualquer outra variável, Papai Noel é intocável. E o natal também é?!
O direito, recém-adquirido, de muitos brasileiros de consumir, me refiro aos recém-alçados à classe C, não será devolvido de forma fácil não. Primeiro que consumir melhora a vida das pessoas, do ponto de vista prático, segundo que consumir melhora a percepção que as pessoas têm sobre suas próprias vidas, no âmbito social e psicológico, amplitudes muito mais marcantes na nossa natureza humana. Assim o consumo é um sucesso da civilização porque andamos ocupados demais para cultuar aspectos mais lentos da nossa vida e socialmente o consumo é dinâmico, vibrante e reconfortante.
Mas nem tudo são flores ou glamour. O comércio dá sinais de que sua estratégia de financiamento compulsivo está chegando ao limite, do outro lado, o consumidor se mostra mais endividado que o ideal, de parcela em parcela, parece que o crediário, junto com o cartão de crédito, consumiu mais do que os 30% da renda do trabalhador médio, e agora o calote ameaça o fluxo de caixa de muitos pequenos comércios e limita o comprador, então o que esperar?
O consumidor brasileiro é um ansioso, não tem cultura de guardar dinheiro para consumir, e parece um eterno carente quando o assunto é comprar. As datas do calendário promocional só fazem crescer em resposta de vendas, e o brasileiro médio gasta tudo o que pode, e até o que não pode, por vezes, quando está diante de uma boa oportunidade de comprar, lê-se, uma oportunidade de consumo aonde exista um bom álibi.
Aliás, não por outra razão o calendário promocional—aquelas datas manjadas e fofas como dia dos pais, mães, namorados, criança etc—e as ações promocionais existem. Tudo funciona na direção correta de gerar uma coleção de álibis para nosso juízo relaxar e permitir que o instinto consumista possa assumir o controle e permitir que compremos, parcelemos e nos endividemos com aquela sensação de que foi um ótimo negócio! Parcelamento de longo prazo, parcela pequenas, ausência de juros (como se fosse possível não remunerar o capital), redução de preços (ainda que de mentirinha), brindes, frases como: só hoje, últimas peças, aproveite, oportunidade e a tão poderosa: “promoção”, são um belo conjunto de álibis comuns e não menos eficientes.
Assim, mesmo com a grana estando mais curta, mesmo com os serviços (como escola, lazer, cursos etc.) que compõe o orçamento da classe B e C aumentando mais que salários e a economia mundial e nacional desacelerando, aprece que a grande maioria, focada no hoje e pouco atenta ao amanhã, vai direcionar sua receita às compras de natal, talvez não na compra de presente a terceiros, mas mais focada em compras para si, na lógica de automerecimento, na boa e velha frase: eu mereço! Outra ótima invenção da vida moderna, em nome de você vender sua alma ao capitalismo, ele te proporciona, com a condição de comprometer mais ainda sua alma, que você compre mais e mais.
Seja como for, parece que Papai Noel e você estarão de saco cheio neste natal, ele de presentes e você de contas para pagar! De todo modo, Feliz natal, ho ho ho...
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário