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Quanto mais suja, melhor
A sociedade brasileira, às vésperas de mais uma eleição, sofre um duro golpe com o recuo do TSE, pela mão de um de seus ministros, ao liberar os contas-sujas para disputar o pleito de outubro. José Antônio Dias Toffoli, mais novo ocupante do STF (Supremo Tribunal Federal), foi a oitava indicação do então Presidente Luis Inácio da Silva; sua escolha, aos 41 anos de idade, fez dele, também, o ministro mais jovem da suprema corte do Brasil.
Infelizmente, seu passado de apadrinhado de Lula, advogado do PT e subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil entre 2003 e 2005, durante a gestão de José Dirceu, parecem ter turvado seu conceito de isenção. Essa seja talvez a única explicação para o seu voto a favor dos políticos cujas contas de campanhas passadas foram impugnadas pela justiça eleitoral, ao contrariar uma decisão do próprio TSE, de março de 2012. Essa decisão baniu da vida pública saudável e digna vinte mil políticos que de uma maneira ou de outra tinham algo a esconder. Aliás, os próprios partidos políticos só deveriam manter em suas fileiras homens cujo passado fosse limpo e cujo presente também. Não seria garantia de um futuro imaculado, porém mais promissor dos que já entram com o pé esquerdo.
Foram os próprios partidos, capitaneados por uma das agremiações campeãs em malfeitos, que entraram com um recurso no TSE, com o intuito de enxovalhar de vez o processo eleitoral brasileiro. E conseguiram, no momento em que a suprema corte eleitoral determinou, candidamente, bastar apenas apresentar as contas; se elas são fajutas ou não é apenas um detalhe. Quem duvidar entra com uma ação de suspeição contra o candidato e como esse, se deputado ou senador tem foro especial, ficara o dito pelo não dito.
Se o processo eleitoral brasileiro fosse sério, aqueles candidatos cujas contas são aprovadas sem quaisquer dúvidas deveriam ser os primeiros a questionar essa pérola parida pelo STE. No final das contas, joio e trigo foram misturados no mesmo balaio e a desmoralização da classe política continuará ladeira abaixo, numa queda sem fim.
No momento em que Luis Inácio aperta a mão de Maluf, cidadão procurado pela Interpol internacional e que só pode sair do país disfarçado, sob o risco de ser preso (pena que Brizola não pode mais ensiná-lo como se faz isso); no momento em que esse mesmo cidadão tenta constranger outro ministro do STF com o intuito de postergar o julgamento do mensalão, mais um escândalo protagonizado pelo PT, essa era a hora precisa para uma virada na política nacional. Infelizmente falou mais alto o espírito de corpo, o apadrinhamento, o agradecimento ao grande chefe, na época, por ter sido indicado para o STF. Aliás, é um risco que o país corre se o mesmo Toffoli não se declarar impedido de participar do julgamento dos réus do mensalão. Sua presença, em plenário, poderá ser um trunfo nas mãos dos advogados desses mesmos réus, caso sejam condenados.
Como acreditar que eleição é coisa séria se os próprios políticos não se dão ao respeito e partem do princípio de que para conseguir resultados tudo é válido, até vender a mãe se preciso for. Pensemos se vale a pena deixarmos o conforto de nossos lares para comparecermos a uma zona eleitoral e depositarmos nosso voto; a multa a ser paga é mais barata que o preço da passagem de ônibus. Se o nosso ato de votar é uma conquista do regime democrático e da cidadania, o modo de agir de uma parcela importante dos nossos homens públicos é uma fonte constante de decepção.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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