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Assédio sexual na infância tem de ser levado a sério
A posição corajosa assumida pela apresentadora da rede Globo, Xuxa Meneghel, ao revelar para seus fãs e ao grande público que sofrera assédio sexual na infância, até os 13 anos de vida, não deve ser em vão e tem de levar a sociedade a reflexões profundas sobre o assunto. Como de hábito, os adultos envolvidos em atos desse tipo, no caso, eram pessoas ligadas à família, mas muitas vezes são parentes muito próximos os agentes causadores de atos tão selvagens.
Duas coisas chamam atenção e merecem ser citadas. A primeira se prende ao fato de que, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, 53% das vítimas de violência no ano de 2011 eram meninas com menos de 14 anos. No ano anterior, das 4.589 mulheres que sofreram abuso sexual, 23,2% tinham até nove anos e as vítimas de 10 aos 14 anos respondiam por 30,3% dos casos. A segunda, longe de responsabilizar os pais, passa pela pouca credibilidade que os adultos guardam em relação aos atos da garotada. É muito difícil que uma criança nessa faixa etária não seja repreendida ou mesmo castigada, se contar para a mãe ou o pai que está sendo molestada pelo tio, padrinho ou o melhor amigo da família. Pior, no mundo louco que estamos vivendo, em que as pessoas não têm tempo para nada, a mudança de comportamento de uma filha ou filho, primeiro sintoma de que algo não vai bem, não é sequer levado em consideração, quando é ao menos observado.
Em suas revelações Xuxa se referiu ao distanciamento e à ausência da presença paterna e à inocência da mãe, que sobrecarregada na educação de cinco filhos não foi capaz de sentir algo estranho em sua própria casa. Ainda de acordo com suas revelações, esse tipo de problema é marcante na vida da criança e vai se refletir na vida adulta. Tanto é assim que a vida dela derivou para uma compulsão ao trabalho, sobrando pouco espaço para a vida amorosa, fundamental para o equilíbrio de qualquer ser humano, e seus relacionamentos foram pouco sólidos e fugazes.
Creio que aqui entra um aspecto fundamental, a meu ver, a ser discutido com as secretarias de educação a nível municipal e estadual. O papel fundamental da escola é o de educar a nível sociocultural, daí ser importante um trabalho de orientação voltado para as crianças, desde cedo, mas também um trabalho com os pais, em que pedagogos e psicólogos promovessem palestras cujo tema principal fosse o abuso sexual que as crianças, do mundo inteiro, estão sujeitas. Seria uma maneira de tentar minimizar essa violência gratuita.
Nunca me esqueço de que numa das primeiras viagens que fiz à França, fui comprar pão e a padaria ainda estava fechada. Como um dos meus objetivos era praticar o Francês puxei conversa com uma garotinha que não tinha mais do que sete anos. Ela até conversou comigo, mas era nítida a sua preocupação de estar conversando com um estranho. Como na Europa esses casos são muito comuns e, na época, a França vivia uma tragédia com o desaparecimento de uma menina de 12 anos, pensei com meus botões: essa criança está sendo bem orientada em casa ou na escola, não importa onde.
A população tem ao seu dispor o número 100, do Disque-Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. Se você suspeitar de que uma criança está passando por maus-tratos, não hesite, denuncie.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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