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Cidade limpa e cidade rica
Somália ou Suécia?! Vivemos de extremos, imitando o primeiro mundo em muitas coisas, mas vivendo como terceiro mundo em quase todas. Nosso município vive em crise há anos sem verbas suficientes pra cobrir as necessidades básicas da população e muito menos a fazer frente aos impostos cobrados de seus moradores. Nesta imensa dissonância cada vez mais ouço a ressonância do conceito de cidade limpa, como se a mídia outdoor fosse o algoz que ceifa beleza e bem-estar das ruas.
O que enfeia nossas ruas são buracos e calçamento inexistente, calçadas quebradas ou de chão batido, empenas de prédios decalcadas, casas sem reboco, mato de um metro nas margens de córregos, rios e terrenos. O que enfeia nossas ruas são cachorros abandonados, cavalos pastando junto a margem do Bengalas e carros que parecem ferrugens sobre rodas, sem faróis e lanternas. Em meio a um show de terceiro mundo alguns profetizam a solução dos problemas na extinção da mídia externa, como se o som de lojas vazando nas calçadas e botecos, e Chevetes e Fiats 147 movidos a funks não fossem muito mais invasivos e perturbadores.
Sou totalmente a favor da regulamentação, acabar com os excessos, com os ilegais, com a bagunça visual, mas entendo que a proibição, pura e irrestrita, é a declaração da incompetência de que não sabe legislar, fiscalizar e compreender que isso gera riquezas a uma cidade, na forma de empregos, impostos e receitas, afinal a publicidade presume uma cadeia de valores, alguém anuncia, vende e de outro lado outro vê e compra e no meio o governo fatura e investe.
Nossos problemas não passam pela simples proibição, o proibido só atinge o legal, o formalizado, o que arrecada. Proibir não resolve, afinal há tantas proibições que são descumpridas repetidamente, porque o estado que proíbe não consegue fiscalizar, seja o carro sem farol, de IPVA atrasado, a marquise despencando, a caixa de som e a banca de produto na calçada, o ambulante vendendo produto de roubo e tantas outras mazelas.
Penso que num município onde o poder público que não pode cumprir com sua obrigação por falta de receita, não pode muito menos dispensar qualquer receita, principalmente quando o produto desta receita é gerador de mais receita, pois cada venda há arrecadação, e a cada arrecadação tributação, e a cada tributo arrecadado a chance de extinguir uma velha mazela.
Regulamentação sim, fiscalização sim, proibição não. Precisamos desenvolver nosso município, há mazelas muito maiores que enfraquecem nosso potencial turístico, nosso potencial de futuro. Que tal destinar as receitas de tributação de exibição a tais mazelas? Vamos destinar a receita a enterrar cabos telefônicos, a campanhas de emboço de casas, equipar equipes de fiscalização, promover uma premiação às escolas públicas de melhor desempenho, custear cursos preparatórios para turismo receptivo etc., como se vê há muito o que fazer com receitas, exceto extingui-las.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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