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Quando punição é apenas um detalhe
Li estarrecido, no jornal O Globo de domingo que o empresário do bicho Carlos Augusto Ramos, vulgarmente conhecido como Cachoeira, de onde jorrava rios de dinheiro, público, e o senador Demóstenes Torres chamaram os mais caros advogados criminalistas do país para defendê-los. Com o meu, seu, nosso dinheiro contrataram Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça, e Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogado preferido pelos políticos envolvidos em escândalos de corrupção. Aliás, o causídico em questão deve estar milionário, pois nesses dez anos de governo petista o que mais tivemos no país foram políticos às voltas com o mal feito.
Mas, o que mais me chamou a atenção foi a estratégia preferida desses renomados advogados consistindo em encontrar falhas nas investigações e montar a defesa de seus clientes baseado nisso. Se eu bem entendi não importa a gravidade do mal feito e sim a maneira como o fato é investigado. Isso confirma a tese de que para a Justiça mais vale a lábia de um bom advogado do que o fato em si. Seria mais ou menos assim: o fulano A atira e mata o fulano B; o advogado do fulano A, mais malandro, convence o júri de que se o fulano B não estivesse na trajetória da bala ele não teria sido atingido e não teria morrido. Fecha o pano e todos vão tomar um cafezinho no boteco da esquina. A justiça seguiu seu caminho.
Os milhões de reais desviados dos cofres públicos, o enriquecimento ilícito de um bando de malfeitores travestidos de homens públicos e empresários, verdadeiros Al Capones tupiniquins pouco importa. Esses indivíduos que são capazes de sumir com verbas destinadas a melhorar a merenda escolar, a minimizar as agruras de quem perdeu tudo nas catástrofes climáticas recentes, a tornar mais digna a vida dos mais humildes, se valem de falhas na apuração dos fatos para escaparem de uma punição. O delito em si passa a ser apenas um detalhe.
Está mais do que na hora de se dar um basta a tudo isso, não é mais possível assistirmos passivamente a essa roubalheira desenfreada a enriquecer de maneira desonesta uns poucos, em detrimento de quem trabalha honestamente e tem sempre um salário inferior a sua real capacidade no fim do mês. Se pegarmos desde o vereador, nível inicial da escala política, até o presidente da república, encontraremos uma maioria que trabalhando como um simples mortal jamais atingiria o padrão de vida que ostentam ao se tornarem homens públicos. A mamata é muito boa tanto que Nova Friburgo vai passar de 12 para 21 vereadores, ou seja, mais nove a se aproveitarem das benesses da vida pública. Creio que a sociedade tem obrigação de dar um basta nisso tudo, anulando seu voto nas próximas eleições ou fazendo uma triagem rigorosa que se baseie em atuações concretas e na conduta moral e cívica dos candidatos. Talvez, só um repúdio em massa faça nossos juristas tomarem as medidas necessárias para salvaguardar a população dos malfeitos diários da classe política atual.
“Faça um político trabalhar não o reeleja”.

Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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