Se não beber, dá para dirigir melhor sua vida

sexta-feira, 06 de abril de 2012

No Jornal do Cremesp, órgão oficial do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, n. 289, jan/fev 2012, pág.3, há uma entrevista com o ex-ministro da saúde, José Gomes Temporão, na qual ele diz: “Há interesses econômicos das emissoras de TV, que faturam bilhões com propaganda [de bebidas alcoólicas], e até a Seleção Brasileira de Futebol é patrocinada pela indústria de bebidas, para vergonha nacional”. E diz mais: “O problema do álcool é mais grave do que o do crack porque degrada a vida lentamente”.

O alcoolismo causa 57 mortes por dia no Brasil. Entre 2000 e 2006 foram contabilizadas 92.946 mortes associadas ao consumo excessivo de álcool, todas evitáveis.
Cerca de 12,3% dos brasileiros entre 12 e 65 anos são portadores de alcoolismo. O álcool é responsável por 70% das mortes violentas ocorridas no Brasil, por 45% de todos os problemas familiares e conjugais, por 42% dos acidentes de trânsito.
A cerveja representa 73% do consumo de doses acima do recomendável
(Carlos Salgado
Presidente da Abead—Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas) (www.abead.com.br/imprensa/exibRelease/?rel=32).

Mais do que 10% dos 192 milhões de brasileiros, mais do que 19 milhões, tem problemas graves com a bebida. Em torno de 47% dos jovens que começam a beber antes dos 14 anos se tornam dependentes dez anos depois.

O caso de Sócrates—que morreu por complicações do alcoolismo—é uma amostra da gravidade do problema. “O consumo de álcool puro, medida usada pela Organização Mundial da Saúde, é de 6,2 litros por ano, pouco acima da média mundial. Mas essa medida é enganosa. Primeiro, porque não inclui bebidas clandestinas. Quando elas são incluídas, o consumo médio brasileiro sobe para 9,2 litros anuais. Outra ilusão estatística: a média é relativamente baixa, porque quase metade dos brasileiros (50,5%) é abstêmia. A metade que bebe toma mais de 18 litros de álcool puro por ano, o triplo da média nacional, com grande diferença entre os sexos: o consumo médio entre os homens é de 24,4 litros e entre as mulheres de 10,62 litros por ano. ‘Nosso problema é que os brasileiros que bebem, bebem sempre, e cada vez mais, de forma exagerada’, diz o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, da Universidade de São Paulo.” (Época online Dez 2011.)

“A bebedeira episódica é muito danosa por causa dos níveis de toxicidade no sangue a que o cérebro fica exposto”, diz Fulton Crews, farmacologista da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. As pesquisas médicas mostram que o cérebro dos jovens (até uma idade entre 21 e 25 anos) está fisicamente em formação e é extremamente sensível às agressões químicas. Um estudo conduzido na Universidade de Cincinnati monitorou o cérebro de jovens entre 18 e 25 anos e descobriu que os bebedores episódicos apresentam diminuição da massa cerebral na área responsável pela linguagem, pela concentração e pelo raciocínio, o córtex pré-frontal. ‘A relação concreta que estabelecemos foi: quanto maior o número de drinques ingeridos pela pessoa, maior a perda de massa cerebral’, diz Tim McQueeny, um dos responsáveis pela pesquisa.” (Época online Dez 2011.)

Pesquisa da Unifesp em São Paulo, com 661 adolescentes, verificou que 5% dos jovens entre 14 e 17 anos bebem uma vez por semana ou mais e consomem cinco ou mais doses em cada ocasião. Um percentual maior (24%) bebe pelo menos uma vez por mês. A conclusão dos pesquisadores é que 13% dos adolescentes (17% meninos) apresentam padrão intenso de consumo de álcool antes dos 18 anos. Outra conclusão preocupante do estudo é que a idade de iniciação caiu para abaixo de 14 anos.

Consequências da ingestão de bebidas alcoólicas:

PSICOLÓGICAS: Baixa concentração,
dificuldades no sono, depressão, ansiedade/estresse, dificuldades de argumentação no ambiente familiar , dificuldades de desempenho no trabalho/escola, abandono de amigos e atividades sociais, problemas legais (brigas,acidentes...)



FÍSICAS: Baixa energia para desempenhar atividades, queda de peso, dificuldades na coordenação motora, pressão arterial alta, impotência sexual, vômitos/náuseas, gastrites/diarreias, doenças hepáticas, maior incidência de fraturas/ferimentos.

Se a gestante ingerir álcool, seu bebê também irá ingerir álcool, porque o álcool pelo sangue atravessa a placenta e chega até o bebê.
A mãe que amamenta e ingere álcool também passa álcool para o bebê pelo leite materno.

Um dano físico que o álcool pode causar ao bebê é a síndrome fetal alcoólica, mesmo em menor dosagem, pode ocasionar a síndrome de forma incompleta. Sintomas no bebê podem ser:
baixo peso, malformações na estrutura facial, malformação dos pés e mãos, problemas de comportamento e aprendizagem, retardo mental leve ou moderado. A intensidade e variedade destes sintomas dependem da quantidade e frequência de ingestão alcoólica, associadas com deficiências nutricionais, entre outros fatores
(Prof. Dr. Ronaldo Laranjeira http://www.abead.com.br/educacao/exibir/?codigo=3).

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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