O que é saudável: estar sempre com alguém ou sozinho? - 9 de fevereiro 2012

sexta-feira, 06 de abril de 2012

Vamos pensar hoje sobre um ponto importante em nossa vida: o distanciamento e a aproximação nas relações humanas, familiares ou outras.

Não creio que exista qualquer ser humano que saiba equilibrar perfeitamente o aproximar-se ou o afastar-se das pessoas. Talvez você seja um tipo de pessoa que sente uma necessidade forte de manter-se próximo a alguém. Ou pode ser um tipo de pessoa que sente a necessidade de ficar mais afastado(a).

Há pessoas que têm muita dificuldade de ficar sozinhas. Se não há alguém por perto, elas procuram manter-se em contato por telefone, internet, etc. Por que será que para elas é difícil ficar um tempo só consigo mesmas?

Por outro lado, há outro grupo de pessoas que sentem dificuldade ou inabilidade de ficar muito tempo junto a alguém. Sentem que precisam estar sozinhas mais do que estar com alguém. Uma destas pessoas certa vez me disse, referindo-se a como se sente estando com pessoas ao redor por muito tempo: “Cansa!”.

Parece que estas diferenças individuais têm a ver com uma variedade de causas. Por exemplo, o temperamento do indivíduo. Uma pessoa de temperamento mais melancólico, provavelmente prefere passar mais tempo de seu dia a dia sozinha. Já uma pessoa de temperamento colérico talvez sinta mais necessidade de companhia. Mas esta explicação não parece se encaixar em todas as pessoas em função do tipo de temperamento delas.

Outra diferença, sem ser o temperamento da pessoa, tem a ver com a qualidade afetiva da infância que o indivíduo viveu na família de origem. Uma criança pode ter saído de um funcionamento familiar (com o pai, mãe, irmãos) em que havia pouca comunicação entre seus membros, pouco toque físico, pouca expressão verbal de afeto, e se isto combina com esta criança tendo um temperamento melancólico, é provável que ela sinta-se mais confortável na vida adulta estando mais tempo sozinha do que acompanhada.

Mas se o irmão ou irmã dela, vivendo no mesmo ambiente familiar infantil sem muita comunicação, tiver uma estrutura de personalidade mais expansiva, poderá preferir estar com pessoas na vida adulta, do que sozinha.

Então, o que faz a diferença entre as pessoas que preferem estar mais tempo sozinhas e as que preferem estar mais tempo junto a alguém, tem a ver não só com o temperamento e o que houve em termos de comunicação afetiva na infância (especialmente nos primeiros 7 anos de vida), mas também com o que chamo de “sensibilidade pessoal”, ou característica individual que faz com que aquela pessoa funcione na realidade da vida de uma maneira específica sua.

Talvez as pessoas que tendem a ficar mais tempo sozinhas precisem aprender a gostar de estar em companhia de outros um pouco mais de tempo. E, as que preferem estar sempre acompanhadas e conversando, talvez necessitem aprender a gostar de ficar só, pois isto também pode ser bom e pode ser importante para o crescimento interior, em vez de viverem somente em comunicação social (que pode ser superficial).

Nesta questão, parece que também o equilíbrio está no meio, ou seja, o saudável é uma combinação entre gostar de estar sozinho, com você mesmo, e gostar de estar com pessoas. Isto depende de um aprendizado que pode durar a vida toda.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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