O Paraíso é aqui - 19 de janeiro 2012

sexta-feira, 06 de abril de 2012

Segundo nosso governo estadual o paraíso é aqui. Casas lindas, pontos comerciais, soluções prontas... Segundo a Secretaria de Comunicação do estado, Nova Friburgo está novinha em folha, bem diferente da realidade experimentada por nós friburguenses.

Em campanha aberta, com direito a fotos e tudo, o governo do estado do Rio de Janeiro deixa a entender ao restante do estado que 2.166 novos apartamentos, 68 pontos comerciais, além de contenções de encostas e pontes estão prontas e à disposição da população atingida pela catástrofe de 2011.

Do ponto de vista de assistência, a catástrofe parece estar acontecendo agora, diante de nossos olhos, com uma linha informativa tão distante da verdade, das promessas e do necessário. Como um presságio do que ainda está por vir.

O processo de comunicação institucional se mistura facilmente à publicidade quando o assunto é o estado, o poder e toda a malha de interesses que se acomoda em cada um dos seus muitos níveis e vertentes. Desde a Alemanha nazista que comunicação e poder se entrelaçaram de uma nova forma e o controle da opinião pública assumiu um status bem diferente e de relevância tão maior. Manter a maioria alinhada e a minoria calada sempre foi a estratégia de qualquer governo populista.

De um lado temos um estado focado em uma eleição. Ano eleitoral, não se pode desperdiçar oportunidades. Demonstrar eficiência, solidariedade e controle são atributos importantes a um grupo que está no poder e deseja permanecer. Nova Friburgo por sua vez, é um curral eleitoral de pouca magnitude para decidir uma eleição estadual, mas vitimada pela catástrofe se torna um ícone importante para ser propalada ao resto do estado como exemplo a ser cuidado. Nesta linha o estado diz a todos, que se sensibilizam, que aqui vai tudo bem, graças a ele e de outro lado todo o estado se conforma e se satisfaz com a história mal contada. É tudo que todos querem ouvir, ninguém se interessa com o detalhe, basta o mal contado mesmo.

O controle da opinião pública surge como instrumento do cerceamento hostil que estados totalitários tinham sobre a discordância da oposição. Como não se pode mais prender, matar ou sumir com quem pensa diferente, o estado quase sempre se afasta da verdade e dos detalhes que fazem tanta diferença e manipula informações, veículos de comunicação e fatos, para que versões, sob medida, chequem à multidão que não critica ou opina, apenas repete mugindo o que ouviu do poder que distribui trocados, no melhor estilo romano de pão e circo.

Se Nova Friburgo não tiver uma estratégia de comunicação agressiva, capaz de dizer ao mundo o que não está acontecendo aqui e o que está, de verdade, acontecendo aqui, permaneceremos sendo o paraíso que ninguém quer e o inferno que todos temos.

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