Marketing mortal - 3 de novembro 2011

sexta-feira, 06 de abril de 2012

A proximidade de finados é um momento bem apropriado para falarmos de morte! Desculpe a falta de pudor, mas essa é a única certeza que temos, e a comunicação pode ajudá-lo a evitar algumas destas possibilidades.

Repetidamente vemos amigos, amigos dos amigos, desconhecidos, mas em comum vemos pessoas, famílias, sonhos morrendo em acidentes de trânsito, quer seja com caminhões, carros, motos e/ou pedestres.

O principio básico do acidente é a convicção do envolvido ou dos envolvidos na perspectiva da crença de que tudo vai dar certo, ou seja, que não vai acontecer o acidente, mas em todo acidente a convicção se mostrou fraca e probabilidade do erro acontecer, aconteceu.

Mas por que esse tema se aqui discutimos comunicação?! Porque a comunicação, a publicidade em especial, ainda tem muito pudor em falar de forma clara sobre finais não felizes. A venda de sonhos é feita cheia de magia, cheia de glamour. O jogo do consumo é escrachado, mas quando falamos de salvar vidas, não podemos falar de m-o-r-t-e. Mas a vida ganha valor quando está ameaçada, é assim também com a liberdade, com a saúde, com a fome... De modo geral, só enxergamos o que temos, ou melhor, tínhamos, diante da perda; não é da natureza humana refletir, ainda mais nos tempos de hoje.

Drogas, álcool, trânsito, valentia, fatores quase cultuados pela juventude que andam no limbo da morte e por vezes, muitas vezes, a acertam em cheio. E a comunicação? Passa longe de uma linguagem clara, direta, realista. Já reparou que numa estrada depois de um acidente cabeludo onde rola o sinistro lençol branco manchado de vermelho, que nos próximos quilômetros todos andam devagar, quase não se fala, se internaliza e se reflete sobre o fato?

Alguns países já desmistificaram o pudor sobre mortes no trânsito, drogas e álcool, mas nós latinos continuamos muito assustados com cenas fortes no intervalo e permanecemos impávidos nos jornais assistindo o que poderia ter sido evitado nestes mesmos intervalos.

Eu me pergunto, em especial como publicitário, quantos ainda terão que morrer, matar, aleijar, traumatizar para que a juventude entenda que bacana é ser inteligente, amigo, gentil. Que drogas são uma alternativa estúpida para a vida, que o álcool é um estado de consciência alterado igualmente artificial e covarde, que dirigir feito louco e alucinado é símbolo de estupidez, que brigar é a alternativa de quem não consegue argumentar, e que principalmente estes são atalhos para morte e que jovem morre sim, não são super-heróis. E veja caro leitor se tais construções acima não são a antítese do que a comunicação massifica em seu conteúdo e em sua programação?! Cabe ao intervalo contradizer, provocar, duvidar; o que não dá pra fazer é continuar lendo sobre aquilo que podia ter sido evitado, é permanecer vendo a programação fazendo apologia, o jornalismo fazendo a cobertura do que deu errado e a publicidade ficar quieta achando tudo muito normal.

TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.