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Congresso nacional e pau de galinheiro, onde está a diferença - 6 de setembro 2011
Volta ao cartaz, em Brasília, o musical “Ali-Babá e os 40 ladrões”, estrelado pelos deputados federais e, como artistas coadjuvantes, os eleitores brasileiros responsáveis diretos pela presença deles na capital federal. Encenado no grande palco em que se transformou a Câmara dos Deputados, os representantes do povo deram mais uma prova do quanto estão distantes da sociedade e que não têm a mínima preocupação com a opinião pública. Aliás, a não cassação da deputada Jaqueline Roriz foi um episódio típico de autoproteção, do famoso espírito de classe.
Num dos muitos escândalos do governo Lula, a referida deputada foi flagrada em 2006, quando ainda não fora eleita, recebendo R$ 50 mil no famoso mensalão do DEM, no governo de José Roberto Arruda. Ontem, na votação no conselho de ética da câmara em que se decidiu se teria seus direitos políticos cassados ou não, duzentos e sessenta e cinco deputados votaram contra, cento e sessenta e seis votaram a favor e houve 20 abstinências. É preciso destacar que Jaqueline é graduada com louvor em corrupção, pois teve como mestre Joaquim Roriz, seu pai, ex-governador do Distrito Federal e que renunciou ao cargo de senador para não ser cassado. Edificante. Um exemplo cristalino do ditado popular de que filho de peixe peixinho é.
É claro que o espírito de classe falou mais alto já que o delito foi cometido quando ela era apenas um projeto, sujo, de deputada (Oriunda do latim, a palavra deputado vem de puta que quer dizer limpeza, transparência. Na Grécia antiga os candidatos, chamados de candidus, se vestiam de branco para saírem às ruas e pedir o voto ao povo, para mostrar a transparência de seus atos, a limpeza de suas atitudes). Se ela tivesse sido cassada, isso abriria um precedente terrível para os nossos políticos, que poderiam ser defenestrados de seus mandatos pelos delitos porventura cometidos antes do pleito. É claro que se isso fosse possível, teríamos uma depuração edificante da câmara, hoje mais emporcalhada do que pau de galinheiro. Uma notícia recente mostra que sessenta por cento dos deputados da Alerj têm alguma pendência judicial.
Os nossos representantes são tão cara de pau que se Adolf Hitler estivesse vivo, eleito deputado federal, o que não seria nada impossível em se tratando de eleições no Brasil, e fosse julgado por essa mesma comissão de ética, seria absolvido. O argumento que tornaria tal aberração possível é de que a abominável matança dos judeus na segunda guerra mundial teria ocorrido antes das eleições de 2007. A comissão de ética provou que ser político no Brasil é atingir um estado de graça, de onipotência, pois o importante é o agora, o que se fez no passado é apenas um detalhe.
Nós eleitores temos a obrigação de ter tudo isso em mente nas próximas eleições; temos de entender que campanha eleitoral é um aglomerado de mentiras, de promessas vãs, de fantasia no sentido amplo da palavra, feitas pelos lobos disfarçados em cordeiros à caça de votos. Se antes muitos já não são confiáveis, imagine após serem eleitos. É melhor abster-se de votar ou anulando o voto ou simplesmente não comparecendo na zona eleitoral, do que se arrepender depois. Aliás, se eleição fosse coisa séria, o local de votação não se chamaria zona.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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