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A empada e a azeitona - 5 de maio 2011
Ao olhar uma árvore — e quanto mais exuberante, mais isso se evidencia — vemos uma copa redonda, esférica, ampla... onde cada folha se ajeita confortavelmente e obtém sua exposição ao sol na mesma medida das demais, e quanto mais folhas se acomodam ao calor e a luz mais fantástica, forte e frondosa fica a árvore.
Olhando a árvore, vejo uma sociedade, uma empresa onde seus membros ou colaboradores são as folhas, entidades ou departamentos são galhos e o poder público ou a instituição corresponde ao seu tronco, e a riqueza vem do solo, sol e chuva, ou seja, vem de fora e cabe aos elementos que formam a árvore conduzir cuidadosamente ao lugar certo para que ela possa progredir e crescer.
A cidade ou a árvore, na analogia, é o todo, onde do mesmo modo como num olhar não vemos nada que não seja a árvore, numa cidade ou empresa o que vale é o conjunto. É função de uma árvore dar frutos e flores, assim temos que perguntar o que estamos produzindo em nossa cidade ou empresa?!
Vemos galhos secando folhas para que possam aparecer, folhas ocultando folhas, não para pegar mais sol, mas para simplesmente ter menos folhas e assim sobressaírem, troncos se torcendo para por abaixo galhos, raízes buscando calçadas e sangrando riquezas, frutos que morrem, flores que murcham, pobre árvore, pobre empresa, pobre cidade.
Bela floresta aquela que tem belas árvores, belas árvores aquelas que tem belos frutos...
Em muitos momentos, na natureza humana parece residir o gene do caroço, é daquele modelo que vem sem azeitona.
São grandes os esforços, por vezes descomunais, os movidos para simplesmente impedir que a ideia de alguém prospere, mas não por que ela é ruim, isso ao que parece é irrelevante, mas porque a ideia não é do cara que move meio mundo contra ela. É a síndrome da empada sem azeitona. Ninguém quer por azeitona na empada dos outros, mesmo que pra isso fiquemos sem empada e com fome, muita fome.
Esse comportamento acontece dentro de empresas, dentro de partidos políticos, cidades, até mesmo famílias, todos se preocupam com as azeitonas e lá se vão as empadas. Com isso produtos, marcas, bairros, setores industriais, tudo vai esfarelando.
Mais impressionante é o foco nos caroços, raramente se alcança a dimensão das empadas e seguimos sem destinar atenção e prioridade as iniciativas fundamentais a construção de uma marca, de uma identidade ou do espírito de uma cidade.
Numa boa árvore, o sol, a chuva, os nutrientes do solo, tudo que há de bom é convergido para onde há melhor especialização, vocação, capacidade em transformar luz, água e minerais em alimento. Imagine todas aquelas folhas brigando entre si para decidir quem seria a flor? Pobre árvore! As folhas ao contrário estimulam cada flor a ser a mais bonita possível, para garantir novos frutos que geram novas mudas e prosperidade.
Muito se espera do marketing, com suas promessas milagrosas, mas enquanto colaboradores, cidadãos insistirem em se ver como árvores e não como folhas, e empresas e cidades acreditarem sem árvores mesmo sem folhas, seguiremos como azeitonas sem empadas, permaneceremos famintos apesar de lambuzados de farelos.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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