Um concerto-espetáculo de órgão de tubo - 29 de abril 2011

domingo, 31 de julho de 2011
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Um concerto-espetáculo de órgão de tubo

Domingo, fizemos um programa diferente e difícil de acontecer no Brasil. Fomos a um concerto-espetáculo de órgão de tubo — na realidade um monólogo que contava a história de Francisco Correa de Arauxo, um compositor espanhol que durante sua vida foi entre, outras coisas, o organista responsável da catedral de Sevilha, na Espanha. Este concerto teve como objetivo nos introduzir no universo desse grande mestre da região da Andaluzia, nascido em 1584, cujo livro Facultad Orgânica, publicado em 1626, é um impressionante apanhado de toda sua maneira de pensar e constitui uma referência do repertório organístico e uma obra prima de seu tempo.

“Uma vida imaginaria de Francisco Correa de Araujo” foi escrita por Laurent Carle, nascido na França em 1969 e que, na atualidade, é organista concertista, compositor, professor de partitura, cultura musical e de órgão, além de ser pianista de jazz. A interpretação ficou a cargo de Michel Gomes, que se tornou ator profissional após formação na Comédie dell´Arte sob a orientação de Carlos Boso, no Teatro dos Oprimidos a cargo de Augusto Boal, do Brasil, e de Artes Cênicas com Jean Louis Hourdin. Além de ator, é músico e promove espetáculos em praça pública, acompanhado do realejo, instrumento que também toca.

Em Chambery existe uma associação de apaixonados por esse tipo de instrumento e é ela quem promove esses espetáculos, como o atual e um outro a ser realizado de 1º a 4 de junho. Aliás, o órgão é um instrumento muito antigo, cujo nascimento data do século III AC e cujo apogeu data do século XVIII. A partir daí ele conhece seu ocaso e só no século XX ele reaparece — com a redescoberta de instrumentos antigos, e com estrutura e musicalidade aperfeiçoada ao longo dos séculos — na Alemanha dos anos 20, depois na França, onde permanece até hoje. Nos Estados Unidos e no Japão ele voltou a fazer parte das orquestras sinfônicas.

O curioso dessa história toda é que nosso senhorio Dominique Chalmin, dentista de profissão e músico por vocação, é um apaixonado por esse instrumento musical e, pasmem, o órgão da foto, que foi usado no espetáculo de domingo é construção sua. Na sua casa existe um pequeno espaço cultural e alguns espetáculos são encenados lá.

Não poderia encerrar sem prestar uma homenagem aos meus amigos dentistas em função de sua identidade com o bom-bril, ou seja, têm mil e uma utilidades. Neto de dentista que sou, posso dar meu testemunho a essas mil facetas daqueles profissionais que nos deixam sempre de boca aberta, pois meu saudoso avô fazia, nas horas vagas, olhos artificiais que pareciam reais. O conhecido radialista, já falecido, José Maria Escassa foi um de seus clientes, após perder uma vista. Além disso, meu avô fabricava seus próprios rádios a válvulas. Portanto, não foi nenhuma surpresa para mim, quando soube da façanha de Dominique.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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