Dom e serviço - 29 de março 2011

Caros amigos, continuando nosso itinerário quaresmal — que é um caminho acompanhando a Jesus que sobe a Jerusalém, lugar do cumprimento do seu ministério de Paixão, morte e Ressurreição — chegamos à meditação sobre o terceiro domingo da Quaresma.

O evangelho deste domingo nos retrata a bonita cena de Cristo que, voltando de Jerusalém para uma das cidades da Samaria, de nome Sicar, fatigado pelo peso da jornada, se aproxima de um poço e pede água a uma samaritana. O pedido de Jesus à samaritana — “Dá-Me de beber” (Jo 4, 7) — exprime a paixão de Deus por todos os homens, e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da “água que jorra para a vida eterna” (v. 14); é o dom do Espírito Santo, que faz dos cristãos “verdadeiros adoradores”, capazes de rezar ao Pai “em espírito e verdade” (v. 23). (BENTO XVI. Mensagem para a Quaresma. 2011)

Estritamente, somos nós que precisamos de Deus. Ele, no entanto, ama os homens com tal intensidade que deseja ardentemente a resposta deste amor. O profeta Oseias expressa esta paixão divina com imagens audazes, como a do amor de um homem por uma mulher (cf. 3, 1-3); Ezequiel, por seu lado, falando do relacionamento de Deus com o povo de Israel, não receia utilizar uma linguagem fervorosa e apaixonada (cf. 16, 1-22). Estes textos bíblicos indicam que o Onipotente aguarda o “sim” das suas criaturas como um jovem esposo o da sua esposa.

Além disso, Deus sabe que o ser humano está feito para o dom de si, que exprime e realiza a sua dimensão de transcendência. Nossa condição humana chega a sua plenitude quando somos capazes de fazer de nossa vida uma oferta a Deus e aos nossos semelhantes.

A Campanha da Fraternidade deste ano — “Fraternidade e vida no planeta” — nos inspira gestos de concreto serviço. Às vezes é muito mais prático e rápido usufruir dos produtos que a Terra nos oferece sem atentar para seu impacto no meio ambiente; entretanto, consumir com inteligência e consciência ecológica é um ato de louvor ao Criador e de reconhecimento de nossa responsabilidade sobre todo o criado.

É sugestivo o lema da Campanha da Fraternidade 2011 — “A criação geme em dores de parto” — que faz eco às palavras de São Paulo em sua Carta aos Romanos (8,22). No mesmo capítulo bíblico está também escrito: “A criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus” (8,19), porém, estes serão realmente senhores da criação quando, deixando seus atos egoístas, aprenderem a utilizá-la com responsabilidade e espírito de serviço. Pensemos nisto.