Desabafo de um cidadão - 23 de março 2011

domingo, 31 de julho de 2011

No dia 31 de março embarcaremos para Chambéry, cidade situada próximo aos Alpes franceses, onde permaneceremos por três meses com retorno previsto para 7 de julho. Além de um período de turismo com visitas ao norte da Itália, à Suíça e à região central da França, participaremos de um curso nos meses de maio e junho nessa mesma cidade. É a realização de um sonho, morar por um período na Europa e esse é o momento ideal, pois à medida que a idade avança certos tipos de aventura começam a se tornar inviáveis.

Por outro lado, sair de Nova Friburgo por um tempo vai me fazer bem e me dar resposta a uma pergunta que não me sai da cabeça: vale à pena continuar a investir aqui? Afinal somos uma cidade empobrecida, que não consegue se livrar dos ranços do passado e incapaz de acompanhar o progresso do mundo. Uma cidade sem perspectiva e que deixou isso bem claro ao eleger para prefeito um político em final de carreira. A eleição de Heródoto pôs em evidência o fato de não termos novas lideranças e que os jovens daqui não foram preparados para assumir e enfrentar os desafios de conduzir os destinos de sua cidade.

A tragédia que se abateu sobre nós, em janeiro, expôs nossas mazelas, destruiu a cidade e a alta estima da população e deixou clara a dificuldade que temos para gerir nossos próprios problemas. As doações em donativos ou em espécie não param de chegar, mas não se tem, em contrapartida, informações concretas sobre o destino dado a elas; isso sem contar que poucos são os que conseguem receber o aluguel social. A única diferença de hoje para o dia 12 de janeiro é que naquele dia tínhamos lama e água para todos os lados; agora as marcas da destruição permanecem e a água foi substituída pela poeira.

Não bastasse isso ainda temos de conviver com a briga de foice pelo poder, protagonizada pelos assessores do antigo prefeito, que não se conformam com o processo democrático pleno que determina a substituição de um mandatário enfermo, pelo seu vice como, aliás, reza a constituição e a lei orgânica do município.

Para completar uma junta médica é convocada pelo legislativo para avaliar as condições de saúde atuais de Heródoto, para saber se ele tem ou não condições de reassumir seu mandato. Numa conclusão do tipo junta tudo e joga fora, ela conclui ser falta de ética dar informações sobre o estado de saúde do antigo prefeito. Então para que ela foi feita? Qual a sua razão de ser?

A população, representada pelo poder legislativo, deve ser informada se Heródoto tem condições ou não de voltar a ser o chefe do governo municipal e caso positivo, se terá condições de ser responsável pelos seus atos. A propalada falta de ética só se materializaria se seus componentes divulgassem o diagnóstico e os exames de laboratório e de imagens realizados por Heródoto contra sua vontade e de sua família. Será o prefeito de uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro mais importante que um ex-vice-presidente e um candidato à presidência? A pergunta faz sentido porque tanto José Alencar como Dilma Rousseff nunca esconderam suas doenças – em nada parecido com o que ocorre aqui. Aliás, a divulgação, na época, do câncer da atual presidenta da república poderia ter posto em risco sua eleição.

É por essas e outras que desde 11 de janeiro a pergunta: vale a pena continuar a viver em Nova Friburgo? Permanece sem reposta em minha cabeça.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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