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Hipertireoidismo: diagnóstico mais fácil, tratamento difícil - 16 de março 2011
Na semana passada falamos sobre o hipotireoidismo, doença caracterizada por uma diminuição ou parada de produção dos hormônios da glândula Tireóide. Hoje, o tema será outra doença desse mesmo órgão, também muito comum entre nós, chamada hipertireoidismo. Como o próprio prefixo hiper sugere, ou seja, “muito” ou “em demasia”, trata-se de uma patologia em que a Tireóide secreta seus hormônios (Tetraiodotironina-T4 e Triiodotironina-T3) em grandes quantidades provocando uma série de sinais e sintomas que, se não detectados e tratados a tempo, podem levar ao óbito.
Os primeiros relatos dessa doença foram descritos pelos doutores Robert Graves e Karl Von Basedow ao constatarem que muitas pessoas internadas em manicômios, na metade do século XIX, por apresentarem distúrbios mentais e comportamentais importantes, tinham outras características que as diferenciavam dos verdadeiros doentes mentais. Essas características eram olhos brilhantes e que pareciam saltar das órbitas (olhar esbugalhado), taquicardia (batimentos cardíacos muito acima do normal entre 60 e 90), sudorese, emagrecimento acentuado, irritabilidade e labilidade emocional, tremores de extremidades, diarreias frequentes, intolerância ao calor, fotofobia (sensibilidade aumentada à luz), alterações menstruais, principalmente hipermenorreia e pele quente e avermelhada, principalmente no rosto (rubor facial). Aliás, esses são os principais sintomas do hipertireoidismo.
As causas mais comuns são: Doença de Basedow Graves que se caracteriza por um aumento (bócio) difuso da Tireóide; Doença de Plummer, cuja característica principal é o aparecimento de um nódulo autônomo que ao se tornar hiperfuncionante, secreta hormônios tireoidianos em quantidade muito acima do normal, com o aparecimento da sintomatologia clássica, porém não tão intensa como no Graves; e o uso em excesso dos hormônios tireoidianos seja no tratamento do hipotireoidismo, seja no tratamento criminoso da obesidade por alguns médicos inescrupulosos. Existe ainda uma forma rara, conhecida como hipertireoidismo central, em que a glândula Hipófise ou Pituitária, situada no cérebro, produz TSH (do inglês Hormonio [e]Stimulador da Tireóide) em excesso, fazendo com que a Tireóide aumente a produção de seus hormônios.
O diagnóstico é feito através das dosagens de TSH, T3 e T4, além dos anticorpos Antitireoglobulina e TPO. A dosagem desses anticorpos é importante porque existe uma doença chamada Tireoidite de Hashimotto, uma inflamação autoimune da Tireóide, cujo início pode ser através do hipertireoidismo. Na suspeita de Plummer, deve-se fazer também uma captação ou cintilografia. Esse exame vai mostrar a presença de um nódulo único que capta todo o material radioativo administrado ao paciente e deixa o restante da glândula “apagado”, sem captar nada.
O tratamento é medicamentoso no início, longo na doença de Graves, aproximadamente um ano, pois as recidivas são frequentes quando interrompido precocemente. No Plummer, com a normalização dos exames de laboratório, procede-se à extração cirúrgica do nódulo com o consequente desaparecimento dos sintomas. Em geral, como a taquicardia é um sintoma importante usa-se, com frequência, um betabloqueador para normalizar o pulso. No entanto, esse medicamento não é específico e sim sintomático. O verdadeiro tratamento é feito com antitireoidianos (Tapazol, Propiltiouracil e Neomecazole), medicamentos cujo mecanismo principal é impedir a entrada de iodo no organismo e sua consequente transformação em hormônio tireoidiano (como já foi dito no artigo sobre hipotireoidismo, o iodo é um elemento indispensável na composição desses hormônios).
É importante frizar que a presença de alguns ou todos os sintomas descritos acima deve levar o paciente a procurar um endocrinologista, pois é importante que o tratamento comece o quanto antes, logo que o diagnóstico for confirmado.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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