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A defesa da ordem pública ganha seu primeiro round - 2 de dezembro.
A invasão do Complexo do Alemão pelas polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, se por um lado tem seu lado muito positivo, por outro deixou em muitas pessoas um sentimento de decepção. Foi como se gastassem muitos fogos para pouca pirotecnia. Homens das forças armadas e da polícia se expuseram, arriscaram suas próprias vidas e, no entanto, menos de 50 pessoas foram presas até agora num dos redutos mais violentos do Rio de janeiro. A quantidade de armas e de drogas apreendidas naquele local mostrou o que significa esse conjunto de favelas para o crime organizado da cidade. O número de veículos queimados e o clima de terror imposto pelos chefes do tráfico expuseram o risco que a sociedade correu.
O que é mais grave: a população de bem dessas favelas, que tanto colaborou engarrafando os telefones do disque denúncia, está, talvez, mais ameaçada do que antes. Os bandidos que permanecem escondidos no morro e os que conseguiram fugir, se puderem, vão cobrar esse gesto com juros e correção monetária. O pior é que podem migrar para as cidades do interior do Estado, onde, por questões de logística, os contingentes da segurança pública são menores.
Numa guerra, quando o inimigo bate em retirada é o momento de causar o maior número possível de baixas, antes que ele construa trincheiras mais atrás e continue a oferecer resistência. Um repórter da rede InterTV disse, em off, fato confirmado mais tarde pela próprio comando da operação, que a presença de um helicóptero da rede Globo no teatro das operações, na quinta feira, impediu uma ação mais enérgica da tropa. Se um grande número de marginais fosse preso naquele momento, a situação hoje seria completamente diferente.
É preciso que se repense toda a política de segurança e, principalmente, a atuação da imprensa nessas ações. A meu ver está provado que as comunidades eram insufladas e obrigadas pelos bandidos a culpar sempre a polícia quando um inocente era morto por uma bala perdida ou durante um confronto no morro. Numa clara tentativa de jogar a população contra essa mesma polícia, era um prato feito a ser explorado pela mídia. A ação nos morros do Cruzeiro e do Alemão mostrou exatamente o contrário, pois ao sentirem a seriedade e o pulso firme do Estado, essa mesma comunidade não só apoiou como aplaudiu a operação. Mostrou que a dignidade da pessoa humana estava amordaçada pela violência, mas pronta para ser libertada assim que surgisse a oportunidade. É preciso que se diga, também, que as próprias forças de segurança tinham o mau hábito de considerar todo favelado como bandido ou aliado deles. A ação desses dias felizmente mostrou o erro desse conceito.
O governo do Estado está de parabéns ao cumprir uma de suas tarefas básicas que é garantir a segurança da população. A formação de recrutas da Polícia Militar em grande número, para garantir o sucesso das UPPs foi o primeiro passo. Mas os recursos financeiros gastos nessa empreitada só serão válidos se a eles se seguir um mutirão para melhorar as condições do ensino público, com professores motivados e bem remunerados, com escolas condizentes com as exigências do mundo moderno. Recurso é o que não falta, basta ter vontade de fazer.
Um povo seguro e educado tem como exigir outros benefícios que garantam uma qualidade de vida compatível com os impostos que paga.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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