Presentinho no pé da árvore - 25 de novembro.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Prezado leitor, certifique-se que o camarada ao lado já saiba disso, porque eu não quero ser o cara que vai ser o desmancha prazeres, mas Papai Noel não existe!

É bem curioso como nós, humanos, desde criancinha temos um senso de oportunismo profundo que nos faz questionar tudo o que nos interessa e calar diante do conveniente.

É muito curioso como as crianças sabidas e articuladas silenciam diante do absurdo da história do bom velhinho, que, trajando roupas quentes, de punhos brancos, que precisa estar ao mesmo tempo em todas as casas, passar nas chaminés com aquela barriga proeminente (e os punhos permanecem brancos!), viajar num trenó sem airbag e sem cinto de três pontas, tracionado por renas (por que não cavalos?!), estar em todos os shoppings ao mesmo tempo em horário integral, e sofrer de amnésia seletiva, pois sabe o presente que a criança quer, mas sempre esquece se ela foi boa aluna e obedeceu aos pais (Papai Noel podia fazer umas perguntas mais a ver, ou mais radicais nos shoppings!)

Enfim, diante do improvável, as crianças aceitam a conversa fiada... mas por quê?!

Recompensa! Vivemos de recompensa, no melhor estilo Pavilov, puro reflexo condicionado, salivamos ao soar da campainha.

As crianças se calam diante desta história (que só pode ter sido inventada por um adulto em pleno uso de entorpecentes alucinógenos, porque as crianças não são tão doidas assim) porque obtém grande vantagem em acreditar em Papai Noel.

E quando crescemos?! Continuamos a viver acreditando em tantos outros “Papais Noéis”! Ao longo da vida de consumo, calamos em diversos momentos porque a recompensa é deveras interessante. Consumir produtos de status e de pertencimento a grupos sociais, diferentemente do que a publicidade nos faz crer e diferente do que as pessoas que não os tem acreditam, não mudam em nada (sob o ponto de vista prático) nossa vida, mas alcançam grande efeito social, porque no melhor estilo das fábulas, quem tem repete o mito, e quem não tem permanece acreditando nele.

Ao possuirmos itens de grande relevância ou respaldo social, que pode ser uma Ferrari, ou mesmo diversos anéis no pescoço (como os “estranhos” Padaungs que habitam as montanhas de Mianmar) não temos nossos problemas de autoestima resolvidos, nossas carências sanadas, nosso relacionamento firmado, nada foi resolvido na verdade, mas temos o consolo do pessoal excluído que mantém admiração, aspiração, desejo na Ferrari ou seu pescoço alongado.

No melhor estilo Papai Noel, seguimos acreditando em fábulas sem pé nem cabeça, comprando o que não precisamos, para mostrar para pessoas que não conhecemos uma pessoa que não somos, mas a recompensa, neste caso de sermos admirados e transformados em meta, funciona como o presentinho ao pé da árvore.

Enquanto isso o mercado vai vendendo, quem pode compra, quem quase pode parcela e quem não pode espera e imagina, que um dia, ao pé da árvore, Noel o deixará lá...

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