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Se Papai Noel existisse... - 18 de novembro.
Imagina só se Papai Noel existisse mesmo, quais não seriam as auguras que ele passaria neste mundo moderno e confuso de hoje.
Tanto sua caixa de e-mail como a de correio viveriam lotadas, e seria necessária uma legião de gnomos para auxiliá-lo na separação das cartinhas com os pedidos das crianças, dos spams e das propagandas de lojas, dos cartões de crédito e dos candidatos a deputado estadual e federal.
Receberia os pedidos das crianças ricas por e-mails, em meio a tantas carinhas feitas com dois pontos e parênteses, e ficaria louco tentando entender os pô, Kd vc, T+ e Vlw e outras assustadoras abreviaturas, que levaria meses traduzindo os pedidos.
Os erros de português seriam ilimitados, e se tivesse o menor problema de abastecimento, poderia criar a regra de só entregar presente a quem escrevesse a carta sem erros ortográficos, se assim fosse, poderia usar uma ou duas renas mancas para fazer a entrega, seriam muito poucas crianças atendidas por esse critério.
Vencida a etapa de recebimento e entendimento, seria urgente financiamento externo. O BID, bancos centrais e o FMI teriam de financiar a operação milionária de dar presentes para as crianças de hoje em dia, que nem de longe se contentam com um peão, bicicleta de duas rodas (é...), boneca normal ou um carrinho básico – é cara, bem cara! A bicicleta hoje precisa ter trocentas marchas, ser de um personagem de TV, super-herói ultramusculoso ou alguma personagem magérrima no caso das meninas. O carrinho, no mínimo de controle remoto, de preferência meio Transformer, e tem que vir com uns acessórios “nada a ver”. No caso das bonecas tem que ser uma boneca cabeça. Que fale sobre as celebridades da TV, horóscopo até o ano 2020 e tem que ter um carinha de “pegação”, por que namorado é coisa antiga, e em vez de cantiga de ninar, tem que tocar um “funk batidão”. Celulares... muitos celulares, iPhone, iPad, iPod e iQualquer Coisa... tem que ter um “i”. Papai Noel seria preso por crime ambiental, tamanha a quantidade de pilhas e baterias que estaria carregando.
Imaginemos a logística agora! Como distribuir tudo isso, ao mesmo tempo?! Papai Noel no pé do morro, negociando com o traficante a sua subida. Parando da blitz e tendo de apresentar o IPVA 2010 quitado e justificando que a seta do trenó não é amarela porque não combina com Natal, e a autoridade ameaçando apreender. Os gnomos alucinados emitindo a NF-e e o sistema da Prefeitura insistindo em cair na última parte do processo. O Ibama multando o bom velhinho por posse irregular e cativeiro de animais silvestres e a associação de gnomos e leprechauns movendo uma ação no Ministério do Trabalho por trabalho escravo. Os importados, sabe como é, dólar baixo, todos retidos no aeroporto e a Federal fazendo operação tartaruga; algum jornal sensacionalista fazendo acusações de pedofilia e o pobre do bom velhinho obrigado a entrar num grupo de vigilantes do peso, por pressão do cardiologista e da Mamãe Noel.
É, tempos difíceis! A criançada quer tudo, quer muito, quer rápido! Não bastasse o mercado estar suficientemente diferente, a criançada parece contaminada pela propaganda e pelos desejos compulsivos de comprar, ter, substituir e descartar.
Papai Noel que se cuide, já, já arrumam um remake de Papai Noel, magrinho, mais jovem, ambientalmente correto, socialmente responsável, roupa de grife, e-mail, SMS, site, 0800, celular com rádio, carro do ano, modelo com ABS, airbag e tudo mais que o mundo moderno e capitalista pode proporcionar.
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