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Anvisa regulamenta a venda de antibióticos - 3 de novembro.
“Os antibióticos vendidos nas farmácias e drogarias do país só poderão ser entregues ao consumidor mediante receita de controle especial em duas vias. A primeira via ficará retida no estabelecimento farmacêutico e a segunda deverá ser devolvida ao paciente com carimbo para comprovar o atendimento. A determinação da Anvisa será publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (28/10).”
Com essa nota publicada no site www.anvisa.com.br, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária coloca um ponto final numa discussão que se arrasta há anos e interrompe um ciclo vicioso que, na maioria dos casos, é danoso para indivíduos doentes e pessoas sadias.
É conhecido de todos a mania do brasileiro de se automedicar, embalado no ditado popular que diz: “de médico e de louco todos nós temos um pouco”; some-se a isso a falta de responsabilidade de balconistas de farmácia, comerciários sem conhecimento técnico adequado, a receitarem qualquer tipo de medicamentos, da simples aspirina ao mais complexo. Em países sérios, até para esse ofício há de se fazer um curso técnico, pois vender um vidro de Vitamina C é diferente da venda de um quilo de laranja lima.
Se a automedicação é um risco, a venda indiscriminada de antibióticos pode virar uma questão de saúde pública, como é o caso da superbactéria KPC (Klebsiela Pneumoniae Carbapenemase). Essa bactéria é resistente a 95% dos antibióticos existentes no mercado farmacêutico, pode causar infecções mais leves como as urinárias, mas também mais sérias e letais como as pneumonias, e é mais comum nos pacientes graves e nos internados em unidades de terapia intensiva, principalmente quando existe uma baixa da imunidade.
Mas ela não é a única, pois é sabido que a resistência é uma consequência do uso dos antibióticos. Se por um lado, desde a descoberta da Penicilina na década de 40 do século passado, as infecções que ameaçavam a raça humana puderam ser combatidas eficazmente, mesmo o uso responsável desses medicamentos gera resistência bacteriana. Por conta de mutações genéticas nas bactérias, as mais resistentes sobrevivem e não mais respondem adequadamente às doses prescritas. Aliás, essa é uma das razões que obriga a indústria farmacêutica a produzir num tempo cada vez mais curto uma quantidade maior de antibacterianos cada vez mais potentes e mais caros, encarecendo o tratamento.
Assim, um processo que biologicamente levaria um tempo determinado para acontecer a resistência foi encurtado com o uso abusivo dos antibióticos. Uma simples febre associada a uma tosse era suficiente para se procurar uma farmácia onde invariavelmente era vendida uma penicilina. O mesmo acontece com as queixas de ardência urinária em que as sulfas, quem não se lembra do Bactrim, eram as campeãs de venda. Hoje, esse privilégio pertence às quinolonas, mais conhecidas como Floxacinas.
Portanto, foi preciso a presença da super bactéria KPC, com várias pessoas infectadas em Brasília, São Paulo, Paraná, Paraíba, Goias, Santa Catarina e Espírito Santo para que finalmente a Anvisa baixasse uma resolução desde há muito esperada pelos que levam a saúde da população a sério. Assim, a partir de 28 de novembro, as farmácias de todo o país só poderão vender antibióticos com receitas em duas vias, com identificação do médico e do paciente, ou no caso de impedimento desse, da pessoa que comprou o medicamento. A fiscalização será idêntica a dos medicamentos de controlados.
Essa medida visa a mudar dados da OMS ao afirmar “que mais de 50% das prescrições de antibióticos no mundo são inadequadas”. Só no Brasil, o comércio de antibióticos movimentou, em 2009, cerca de R$ 1,6 bilhão, segundo relatório do instituto IMS Health, ou seja um negócio lucrativo.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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