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Consumai-vos! - 7 de outubro.
Há cerca de um mês precisei alugar um carro, e após o pagamento de cento e quarenta reais, tive um “kinder Ovo móvel” de câmbio manual, sem airbag, sem ABS, sem ar-condicionado, “sem tudo”... para viajar ao Rio. No seguro, franquia de mil reais e garantias de apenas 25 mil reais contra terceiros, foi necessário deixar um pagamento pré-aprovado de oitocentos reais, para multas ou problemas eventuais, no cartão de crédito.
No demorado retorno – afinal carros de mil cilindradas não foram criados para ultrapassar caminhões de transporte de cimento na serra – foi necessário abastecer o carro e investir mais uns dez minutos para verificar se havia algum arranhão na lataria, rodas, se o estepe estava na mala e se o macaco também não fora roubado por mim.
Por coincidência, nesta semana, apesar de não possuir cartão fidelidade da locadora, diferente do ocorrido em terras altas, entrei no site de uma locadora em Miami, e diante da necessidade de locar um carro, resolvi saciar minha curiosidade: Qual o valor para locar um Hammer?! Um jipão parrudo militar em versão civil que eu adoro! Caí para trás, por apenas 99 dólares a diária, com seguro de um milhão de dólares contra terceiros e ocupantes e sem franquia! Combustível? Fique tranquilo! A locadora abastece e isso não custa nada. Aguçado pelas gentilezas, comecei a abusar, pensei... Miami Beach, sol, Ocean Drive, que tal um conversível? Pasmei, míseros 79 dólares a diária, mantidos os mimos. Diante do exposto, surtei! Ferrari!! Ferrari!!! Eu quero uma Ferrari (risos). Tem para alugar! Preço?! Mil e seiscentos dólares por dia, e mimos iguais.
Claro que não vou locar uma Ferrari, o dinheiro é pouco, embora a tentação seja muita e essa história tende a acabar mal (risos novamente), mas uma coisa é indiscutível: dá prazer consumir assim!
Um mix perfeito, mimos, preços competitivos, nenhum calção é exigido e garantias altas são oferecidas, de quebra um trânsito planejado, estradas sem pardais e carros espetaculares e preços justos, muito justos.
O processo de consumo é composto de necessidade ou desejo, de quantidade de dinheiro envolvida, tamanho da escolha ofertada, de atendimento e qualidade da prestação do serviço e pela experiência e sentimento que se ganha ao final do processo de compra. Essa combinação pode se apresentar de forma bombástica ou de forma impressionantemente tentadora, e quem já foi à América, entende bem como é difícil voltar de lá com o cartão de crédito incólume.
A sociedade do consumo se reafirma pelas práticas eficientes como combinam os itens prioritários na experiência de consumo que culminam no prazer de consumir. Por aqui o prazer ainda anda longe, afinal há muito desequilíbrio nos itens envolvidos na experiência de comprar, e o consumo por vezes se faz por puro status (compramos para exibir, na certeza de que quem nos vê nos inveja ou admira, ainda que doa comprar), ou por restrita necessidade (o que acaba com qualquer prazer), pois consumir ainda é para poucos e quase sempre traumático.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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