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Como convencer meu familiar de que ele é alcoólico e precisa de tratamento? - 16 de setembro.
Parte 3 de 3
Essa é a terceira e última parte do tema que estamos analisando sobre o que fazer quando você convive ou tem algum relacionamento com um familiar ou amigo íntimo que rejeita a idéia de ter problemas com bebidas alcoólicas, sendo de fato um alcoólico.
O familiar do alcoólico precisa de ajuda psicológica para aprender a não ficar tentando fazer o impossível para mudar o alcoólico, o que em geral deixa este familiar bem doente emocionalmente, com o que chamamos de codependência afetiva, que é, em resumo, a tentativa de ficar cuidando do outro de maneira errada de tal modo que deixa a si mesmo de lado também de maneira errada. Agir como codependente junto a um alcoólico (ou outra condição) é sentir-se responsável pelo bem estar da pessoa “esquecendo-se” ou não considerando que cada pessoa adulta é, ou deveria ser, responsável pelo seu (dela) próprio comportamento e escolhas e deve pagar o preço das consequências das decisões que toma.
Geralmente o familiar do alcoólico faz um monte de coisas que não deveria fazer crendo que irá ajudar o alcoólico. Pode ser pagar fiança para ele não ser preso ou tirar da cadeia, dar desculpas mentirosas ao patrão sobre o porque da falta ao trabalho, limpar inúmeras vezes os vomitados dele na casa, pagar internações hospitalares que ele não queria, ir sempre pegá-lo no bar ou caído na rua, pagar contas que ele deveria pagar, etc. Fazendo isto, o familiar somente perpetua o problema, pois estas atitudes de codependência levam o alcoólico a se acomodar na doença.
Existe um eficaz grupo de apoio para os familiares e amigos de alcoólicos que se chama Al-Anon. Neste grupo e com a literatura do Al-Anon é possível aprender a lidar com o alcoólico de uma maneira que realmente o ajudará a se tratar, se ele quiser, e pelo menos ajudará a salvar a vida do familiar codependente, a qual estava sendo destruída pela convivência com este problema sério chamado alcoolismo.
6) O familiar do alcoólico precisa entender que não há garantias de que ele se tratando no Al-Anon ou de outra maneira, o alcoólico irá, finalmente, procurar um tratamento para ele. Há alguns que nunca irão se tratar e morrerão das complicações do alcoolismo (cirrose hepática, por exemplo). O parente deve trabalhar com sua própria mente no sentido de aceitar que é impotente diante do problema já que não consegue convencer a pessoa a se tratar. Isto não quer dizer que não deve falar do assunto, incentivando o alcoólico a se tratar. Deve falar, dar algum folheto ou revista que fala de como sair do alcoolismo, se oferecer para levar ao local de tratamento, etc. Mas não deve fazer isto obsessivamente, nervosamente, insistentemente, controladoramente e sentindo-se responsável pelo que a pessoa faz por causa da doença do alcoolismo que ela tem, ou ficar pagando consultas e internações que o indivíduo não pediu e não queria.
7) O familiar pode aprender a praticar o que os grupos Al-Anon ensinam sobre o que eles chamam de desligamento afetivo com amor, que, em resumo, é passar a ter uma atitude mais diplomática, mais formal, sem discussões, sem tentar provar nada, sem querer mudar o indivíduo. Ao invés de ficar no controle, o familiar abre mão do controle, senta no banco do carona, e deixa o alcoólico pagar o preço de suas escolhas insensatas. Claro que isto significa que o familiar colocará limites quando o comportamento do alcoólico estiver abusivo. Isto pode incluir dormir em quarto separado sendo casados, não pagar as contas que ele deveria pagar e mandar os cobradores falar com ele, não ficar usando o próprio dinheiro para cobrir despesas que o alcoólico deveria assumir (a não ser o básico para a vida dos membros da família), pedir ajuda especializada nos casos de agressão física (delegacia da mulher, delegacia de polícia, advogado, etc).
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
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