Do mal... - 2 de setembro.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Eu sou um publicitário orgulhoso de ser especialista em marketing. Estudei muito e com muito gosto para compreender parte das relações envolvidas neste processo (o todo é impossível) em que interesses corporativos, econômicos, políticos, culturais se encontram com interesses pessoais, psicológicos, sociais e novamente econômicos e culturais.

Todo brasileiro é potencialmente médico, técnico de futebol e por que não especialista em marketing. Todos temos a mania de achar que entendemos daquilo que passamos perto, acreditamos no conhecimento osmótico que, por simples troca de pressão na ‘membrana cerebral’, nos presenteia com o conhecimento.

Apesar de todos nós darmos sempre muito valor ao conhecimento duramente adquirido e quase sempre crer que o conhecimento do outro foi mais facilmente colecionado, isso não é o que me incomoda, na verdade pela veia de professor, tenho muito prazer em desconstruir alguns mitos dados ao marketing, mas o que me incomoda é como o marketing permanece, no mito social, sinônimo do mal.

Na verdade há quem pense que o marketing tem sido incompetente em se posicionar como uma ferramenta produtiva do bem, que como qualquer outra profissão permite condutas duvidosas ou puramente inaceitáveis. Na verdade o marketing segue ignorando o grito popular de “é do mal, é do mal” e segue eficiente, obtendo resultado de almas boas e almas más.

A essência é essa, nossa alma. Cada dia mais acredito que a convicção do marketing ser sinônimo de trapaça, surge da insistência das pessoas em negar sua culpa no processo, transferindo para um ser inanimado, etéreo, impossibilitado de trapacear, a responsabilidade do êxito das estratégias de marketing que funcionam, sejam usando ‘sentimentos’ como ambição, desejo, conforto, segurança ou as que se baseiam em inveja, exibicionismo, materialismo, ganância e tantos outros sentimentos que são humanos, não de marketing.

Por que marketing não funciona com bebês? Mas por que funciona com as mães, avós e titias de bebês?! Por que o marketing não funciona com cachorros e gatos, mas com os donos destes? São sentimentos, medos, desejos, competições humanas que nos fazem os dominantes do planeta; os destruidores – algozes e os grandes consumidores do mundo.

O que o marketing faz com muita eficiência é conhecer a nós muito bem, e encontra em nós eco, amplificação, coro, sinergia, eficiência em seu discurso, realiza em nós percepções e sensações reais. Para cada ação do bem, o marketing traz para as vendas, marcas e empresas uma legião de consumidores, deste mesmo modo, para cada estratégia perversa de marketing há uma legião de consumidores maus.

O marketing é como uma arma: pode garantir sua segurança, pode garantir a paz, assim como pode ser usado de forma ruim, e, desta forma, além de depender de quem ‘atira’, também depende de quem ‘ferimos’. Vinte e dois não derruba elefante, e, neste caso, o calibre é de responsabilidade de quem compra, não de quem vende.

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