Diabetes e Emoções

sábado, 31 de julho de 2010

Parte 2 de 2

No tratamento do diabetes é necessário, além de medicamentos, a dieta, exercícios físicos e busca de equilíbrio emocional. Na verdade, este último é importante para a recuperação de qualquer aspecto ligado à saúde. Importante entender que a doença física é apenas uma das manifestações do organismo em sofrimento e que ela atinge o emocional, queira a pessoa tenha ou não consciência disso.

O emocional é constituído por aspectos profundos e tem muito de inconsciente. Por exemplo, se a pessoa diabética tem muita raiva pela doença adquirida mas não tem consciência desta raiva e a nega, diz-se que ela possui uma raiva reprimida no seu inconsciente. O inconsciente é um espaço em nossa mente em que ficam sentimentos, pensamentos, imagens, sem que tenhamos acesso a ele quando queremos. Na medida em que esta pessoa tomar consciência dessa emoção, conseguir experimentá-la conscientemente e expressá-la adequadamente, ela eliminará fatores emocionais da doença que poderiam agravar o quadro.

Como qualquer doença, o diabetes será enfrentado de modo diferente por cada indivíduo, dependendo dos recursos emocionais que ele possua. Algumas pessoas são muito inconstantes emocionalmente, enquanto que outras conseguem ter melhor administração de seus sentimentos. A maneira como lidamos com nossos sentimentos favorece ou atrapalha o lidar com a doença física e pode ajudar a melhorar ou a piorar.

Dr. Samuel Silverman, da Universidade Harvard, diz que certas pessoas têm mais facilidade para desenvolver um câncer em algum ponto vulnerável do corpo se elas apresentam importantes dificuldades para expressar suas emoções. O mesmo pode ocorrer no caso do diabetes. Uma maneira de descarregar a emoção é pelo chorar convulsivo, e outra é falando. “A incapacidade de comunicar com palavras os seus pensamentos faz com que essa pessoa ‘fale’ com a ‘linguagem dos órgãos’, ou seja, o adoecer de determinado órgão é a forma inconsciente do indivíduo proclamar seu sofrimento, por não poder conseguir fazê-lo de outra forma.” (Silva, 1994).

O diabetes se desencadeia principalmente por fatores hereditários, mas o fator hereditário não é suficiente para que haja a doença. São necessárias “…modificações exteriores violentas com valor de trauma…” (Debray, O equilíbrio psicossomático: um estudo sobre diabéticos, Casa do Psicólogo, 1994).

Ajuriaguerra, (Manual de Psiquiatria Infantil, 1976) explica que: “Na anamnese (colher os dados do paciente) de adolescentes diabéticos, E. P. Stein e V. Charles [1971] verificaram perdas parentais [morte, separação, divórcio] ou distúrbios familiares graves em uma proporção significativamente elevada, o que, segundo eles, justifica a hipótese de que um indivíduo fisiologicamente sensível, em um clima de estresse afetivo, é mais suceptível a desenvolver manifestações clínicas do diabetes…”

O diabetes é uma doença multifatorial e o fator emocional é muito importante para a melhora ou piora. Se isto for compreendido pelo diabético e se ele tomar consciência e aprender a lidar com as emoções em conflito em seu interior, muito ajudará na administração da doença.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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