Compulsórios ou compulsivos?

sábado, 31 de julho de 2010

O estado nos seus muitos níveis de atuação tem quase sempre em comum a postura de que não somos consumidores, mas meros e obrigatórios contribuintes. A perspectiva de que não compramos o serviço, mas sim compulsoriamente o pagamos, muda a natureza da prestação de serviço e a relação de comprador e vendedor desobedece às leis da física de mercado.

Nada disso é novidade, basta debruçar-se sobre as placas que decoram muitas repartições onde lembra-se ao contribuinte de que este pode ser preso em caso de desacato ao funcionário, isso nada mais é que um mecanismo do estado de compensar a falta de aparato, pessoal, estrutura e tecnologia na prestação do serviço, um mecanismo que impede a reclamação de forma a gerar alteração no processo. É como colocar barro no buraco do asfalto, é um faz de conta, é mais peneira nova sob o sol escaldante. Imagina o quanto engraçado seria entrar na sua boutique preferida e ter uma placa avisando que destratar a vendedora pode resultar em prisão!

O curioso é que o mesmo estado que legisla tão austeramente sobre as relações das empresas com seus consumidores, aqueles que entram voluntariamente nos pontos de vendas, encontram amparo em farta legislação sobre o tema, fazendo com que os empresários estejam sujeitos ao rigor e ao vigor da lei.

Vejamos itens curiosos, como o tempo em filas. Como o estado lida com isso? Se demorar mais de trinta minutos o atendimento, o que acontece? Perguntemos a legião de pessoas que fica um dia todo e sai sem atendimento em hospitais ou postos de saúde! Comprovantes de quitação? As concessionárias são obrigadas a emitir comprovantes de quitação e o estado te cobra débitos com dez anos sem que possa discutir. Centrais de atendimento; como faço para falar com o estado? Há meses tive o bloco do motor do meu carro rachado por um paralelepípedo levantado no caminho da minha casa, como faço para reverter meus impostos no conserto, como acontece com o pedágio de uma rodovia privatizada?

O estado não chama para si o que impõe à iniciativa privada, e isso mantém enorme distância entre o que seus consumidores necessitam e o que ele, o estado, oferece em suas três instâncias. É a máxima: Façam o que falo, mas...

De dois em dois anos, ouvidos, sorrisos, promessas e uma coleção de gestos ensaiados e esperados cobrem o período eleitoral por parte de candidatos ao executivo e legislativo, e nada muda na aproximação ou no trato do estado com seus contribuintes.

Por que o estado se recusa a tratar seus contribuintes como consumidores? Por que se restringe em olhar a todos nós como financiadores compulsórios e não investe em nos transformar em financiadores compulsivos, do mesmo modo que tantas marcas conseguem gerar em nós paixão!? Por quê!?

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