Colunas
A emoção não é o amor
Milhares de pessoas casadas cada dia se envolvem em paixões extraconjugais e crendo que acharam o ‘amor da minha vida’. Acharam? Por que perderam o que tinham com o cônjuge? Não foi este cônjuge o ‘amor da minha vida’ anos atrás, com quem criam que seriam felizes para sempre?
Amor vivido como sentimento de paixão é passageiro, ainda que dure meses. Psicólogos afirmam que dura uns dois anos, antes de se cair na realidade e começarem a surgir atritos difíceis no relacionamento, talvez os mesmos do casamento anterior, ou do atual na pessoa que mantém um (a) amante.
Inevitavelmente há um momento em que os apaixonados terão que se defrontar com as dificuldades pessoais e as de cada um, pois todas as pessoas têm dificuldades de comportamento, algumas mais complexas, outras menos. As dificuldades que são suas na vida com seu esposo/sua esposa irão aparecer também num novo relacionamento, se não forem resolvidas dentro de você, em sua consciência, racionalmente. A a paixão esconde tais dificuldades de modo que ela não liga para elas porque está tomado pela emoção e a paixão também mascara as dificuldades de comportamento da outra pessoa apaixonada. Um não vê as dificuldades do outro e nem as próprias, que podem permanecer por um bom tempo abaixo da superfície da consciência. Neste momento ambos podem jurar terem encontrado o ‘amor da vida’. Na realidade, sentem isto porque estão usando ‘óculos escuros emocionais’ que protegem da visão da verdade e da realidade de cada um e do outro. Se há sexo, aí a lente dos óculos é ainda mais grossa e escura, porque o prazer físico mascara a dor dos problemas comportamentais à espera e em necessidade de resolução.
A paixão emocional esconde da pessoa as dificuldades que ela tem porque mantém o indíviduo num êxtase, semelhante ao efeito de uma droga. Naquela hora é tudo ‘paz e amor’. Quando acaba o efeito fica cinza, como um dia nublado. Então, é o momento de se lidar com a realidade, a dor, a limitação, a frustração, a necessidade de mudança interior que a droga e a paixão só prometem, mas não fazem.
Se você se relaciona com alguém casado que se diz apaixonado por você, já se perguntou sobre o que ocorreu entre esta pessoa e o cônjuge dela? Será verdade todas as críticas que ela faz para você sobre o cônjuge dela? Se você escutasse aquela pessoa, o que ela diria do seu (sua) amante? Existe casamento em que o problema é só de um? O que é que este indivíduo com quem você mantém uma relação extraconjugal tem de limitação pessoal que faz infeliz o casamento dele? Ou você está ingenuamente crendo que o problemático é só o esposo/esposa dele (a)? Que segurança uma pessoa que é amante de alguém casado (a), sabendo que a pessoa é casada, tem no (a) amante? Pode-se confiar num adúltero? Que certeza haverá de que tal pessoa não irá fazer o mesmo ao se unir com o (a) amante, ao surgirem os problemas?
Quando surgem problemas de relacionamento conjugal, cada um deve lutar pelo seu casamento no máximo do que depende de você e do que é possível fazer (conversando, lendo bons livros, tendo aconselhamento de casal, indo a encontros de casais, etc.).
Estudos em terapia de casal e família revelam que quando se rompe o casamento sem aprender a resolver dificuldades emocionais pessoais, e se casa de novo, há 60% de chance deste segundo casamento ser rompido.
Se você não amadurece como pessoa, uma paixão não faz isto. Pelo contrário, ela o envolve mais ainda na imaturidade. Amor é um princípio de ação. Ele não tem nada que ver com a volubilidade de uma paixão. As novelas também não ensinam isto. Pelo contrário.
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário