Foi apenas um sonho que acabou!

sábado, 31 de julho de 2010

A população, de um modo geral, se mostra espantada diante das notícias e acontecimentos exibidos nos noticiários das TVs principalmente, por ser um veículo de informação que associa a imagem com os fatos, e muitas vezes no momento em que ocorrem.

Nas duas ultimas semanas, entre tantos relatos já rotineiros na vida do cidadão brasileiro, como crimes, corrupção e balas perdidas, uma reportagem atraiu a atenção de todos, principalmente da camada menos informada do povo, tanto nas periferias das grandes cidades quanto nas pequenas vilas dos interiores deste país-continente.

Nestas ultimas então, informações deste tipo caem como um raio em meio à tempestade.

Estou falando do caso da mulher grávida cujo bebê desapareceu após o nascimento.

Assim, desta maneira, foi noticiada a ocorrência, acontecida numa cidade do norte do pais.

A primeira impressão que a população teve, foi a de que alguém sequestrou o recém-nascido. A confusão aumentou ainda mais, quando o médico obstetra que realizou a cesariana, afirmou com convicção que “não havia feto” na barriga da referida senhora.

As pessoas se perguntavam como isto seria possível, então, se a mulher fez exame de gravidez, ultrassonografia e até mesmo pré-natal?

Eu não tive acesso, como vocês todos, aos documentos que foram produzidos ao longo deste acontecimentos. Não consegui ver, nas diferentes reportagens sobre o caso, o conteúdo dos exames que teriam sido realizados durante o referido pré-natal, as coisas foram mostradas muito rapidamente e o relato dos diversos repórteres falavam genericamente, sem muita profundidade, o que também não seria adequado para o momento.

Do que assisti e ouvi, fiquei com a impressão de que deve ter ocorrido um quadro daquilo que nós, obstetras, chamamos de pseudociese ou falsa gravidez.

Muitos, ao lerem estas informações, devem estar se perguntando se é possível existir uma falsa gravidez, como pode ser isto?

Sim minha gente, isto não só é possível como já tivemos em nossa cidade muitos destes casos, ao longo de todos estes tempos passados, todos eles bem resolvidos pelos nossos competentes obstetras, do passado e do presente.

Esta falsa gravidez é uma condição em que a mulher, geralmente com algum tipo de transtorno mental, emocional, passando por alguma situação de grave problema familiar, numa iminência da perda de um casamento por falta de um filho, ou coisa semelhante, desenvolve em seu psiquismo a crença de que está esperando um filho.

Esta esperança é tão intensa que se transforma em certeza. Alterações físicas começam então a ser produzidas, como a suspensão das menstruações, o crescimento dos seios, e a distensão do abdômen que vai se tornando cada vez mais volumoso. Todos estes acontecimentos vão acontecendo aos poucos, paulatinamente. Os exames de sangue mesmo negativos, não servem como argumento para convencer a falsa grávida.

Ela luta com todas as forças e relata que já soube de casos como o dela, nos quais nem a ultrassonografia conseguiu ver o nenén dentro do útero. E por mais que os médicos tentem mostrar-lhe que aquela não é uma gravidez de verdade ela, agarrada à sua esperança de ser mãe, em nada acredita. Acaba por desaparecer das consultas, procura outros médicos no desejo de que algum deles diga que ela tem razão, que todos os outros estão equivocados. Muitas vezes as coisas terminam quando a passagem do tempo mostra que nenhuma gestação pode durar mais de um ano e ela acaba por cair na realidade, e tristemente aceita que tudo foi apenas um sonho que acabou. Outras vezes pode ocorrer como parece que foi desta vez. Chega a uma maternidade com fortes dores, o médico não consegue ouvir o coração do feto, pode se confundir, acreditar que ainda existe tempo para salvar a criança e, cheio de esperança, realiza uma cesariana de urgência ao fim da qual se depara com um útero pequeno no qual não existe nenhum bebê. Só então se convence de que era uma falsa gravidez. O difícil agora é convencer a todos!

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Dr. Norberto Louback Rocha

Dr. Norberto Louback Rocha

A Saúde da Mulher

O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.