Que sabor é esse?!

sábado, 31 de julho de 2010

Comida é pasto, bebida é água; você tem fome de quê? Você tem sede de quê? Diz a música Comida cantada pelo Titãs. Tudo bem que o mercado evolua e deixemos para trás o pasto e a água, que venha o caviar e o pró-seco, mas as coisas andam muito doidas em termos de comida e bebida, vejamos...

Os sabores de tudo andam tão variados e tão em moda enxertar gostos, aroma e cores que não constituem nem de longe o esperado naquele produto. Qualquer dia será muito razoável começarmos a consumir produtos com gosto de coisas que nunca tiveram gosto, como por exemplo cor, lugar, temperatura. Imagine a cena: “me dá um biscoito sabor vermelho, uma Pepsi sabor Friburgo ou uma bala sabor calor”.

Aposto que você ao ler isso, imaginou qual seria o gosto do biscoito verde e do biscoito vermelho, ou o sabor e cor de uma Pepsi Friburgo e da Pepsi Rio de Janeiro...

De modo geral, em um senso comum, no inconsciente coletivo, reina um padrão de associação de cores, sabores, temperaturas, aromas etc, e a indústria sabe bem disso e cada vez mais cria associações desta natureza. O importante é vender mais, melhor e com maior blindagem contra a concorrência.

Nesta linha, os produtos, sabor outro, também vêm com força total. Já reparou que é quase impossível comprar uma batata frita, sabor batata frita? A Fanta laranja não tem mais sabor de Fanta laranja! Os biscoitinhos de ‘isopor’, tipo Elma Chips, não têm mais sabor de isopor...a truta agora é salmonada, tem gosto de salmão; está cada vez mais difícil comer ou beber as coisas sabor “esta mesma coisa”.

Nos Estados Unidos, tem um refrigerante que tem gosto de enxaguante bucal , e temos o enxaguante bucal, sabor refrigerante, batata sabor picanha, aliás, tantas coisas hoje tem sabor picanha, que não demora vão inventar a picanha sabor outra coisa, porque vamos enjoar de picanha!

Não demora, também, o maior sucesso entre consumidores entre 6 e 15 anos vai ser a pipoca, pasmem, sabor pipoca.

Na busca por consumo, as empresas inovam de forma acelerada, e outras tantas copiam de forma indiscriminada, e nós, consumidores, acabamos por ter nossas escolhas multiplicadas, ampliadas, mas não raramente afastadas do que gostaríamos de, de fato, poder escolher.

Sabores normais, cores normais, consistências normais, são alguns itens que poderiam voltar as prateleiras ao menos na forma de ‘lançamentos’!

Roberto Mendes é publicitário, especialista em marketing pelo Instituto de Administração e Gerência da PUC/RJ, professor titular da Universidade Candido Mendes e sócio da Target Comunicação.

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